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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
"Mais do que questionar se a Assembleia Geral do passado sábado, em que uma larga maioria aprovou a expulsão do anterior presidente da condição de associado, significou mesmo o fim de um ciclo tétrico e kamikaze no Sporting, aos actuais dirigentes leoninos e a todos que se preocupam genuinamente com o clube deverá agora interessar a análise de o leque de circunstâncias sociais, culturais e económicas que ajudaram a levar ao poder um incorrigível populista e demagogo.
Até porque só esse exercício ajudará também a compreender como é que, apesar de todas as transgressões e malfeitorias (que nem sequer foram contestadas pelo inculpado no processo de expulsão), se mantêm as coléricas manifestações tribais em torno de uma figura que achava que a sua profissão era ser presidente do Sporting ad aeternum.
O ex-"querido líder" vai, obviamente, continuar por aí, até porque anda desocupado. E não será nada surpreendente que um canal televisivo não resista, um dia destes, a convidá-lo para um qualquer programa de má-língua. Confirme-se ou não, alguns sportinguistas irão continuar a acreditar que o seu guru irá regressar numa manhã de nevoeiro e montado num leão unicolor, qual D. Sebastião à moda da Quinta do Lambert.
É um sentimento de orfandade que acaba por ser natural e humano. E a melhor forma de contrariar a instabilidade criada por tanto ódio e deletério é evitar a hostilidade gratuita a quem continua a gostar do clube, mesmo que momentaneamente denote uma perversa inversão das prioridades.
Será preferível, pouco a pouco, explicar-lhes que aquele movimento profético gratifica excessivamente um dos piores reis da nossa história e o responsável pelo desaparecimento da maior parte da elite portuguesa na insensata batalha de Alcácer-Quibir. E que aquela atracção shakespeariana por um rei desparafusado e imaturo e por alguém que se achava protegido por um desígnio divino já despertou há cinco séculos e, até hoje, sem grande sucesso.
Será também este grande trabalho de pregação que se irá exigir a Frederico Varandas. O presidente do Sporting terá de continuar a reformular as infraestruturas e a formação de Alcochete. Terá também de equilibrar as finanças e inventar novas receitas, ao mesmo tempo que se impõe o investimento sensato (já realizado, em boa parte) no reforço da equipa de futebol.
Deve ainda cuidar e muito acarinhar as restantes modalidades, mantendo-as tão ou mais competitivas. Mas, ao mesmo tempo, precisa encontrar uma mensagem emancipada e suficientemente impactante junto das restantes instituições, dos seus indefectíveis, mas também junto daqueles que nas AG gritam extemporaneamente pela sua demissão.
Esta espécie de quadratura do círculo será porventura um dos seus principais desafios, até por o obrigar a sair um pouco mais da sua zona de conforto. Mas será a melhor forma de contrariar o sebastianismo".
Bruno Prata, jornal Record
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