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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
As televisões, que por diversas vias têm grandes receitas com o futebol, encontraram nos programas de debates, meramente especulativos a captação de audiências. E tratam o futebol como se fosse a coisa mais importante das nossas vidas. Assim banalizam a palavra crise a partir de resultados desportivos, o que nesse contexto parece-me desadequado.
Crise num clube de futebol tem a ver com a sua sustentabilidade, assente numa boa ou má situação financeira. Mas para a comunicação social, uma equipa que perde jogos, se for um dos grandes, é logo atirado para a crise. Não admira por isso que o Sporting tenha estado debaixo de fogo durante está época. Acontece que no plano desportivo umas vezes ganha-se muito, outras menos,e acontece com todos os grandes.
Está época do Sporting tem decorrido muito abaixo do esperado, o que não é sinónimo de nenhuma crise, porque tem vindo a recuperar financeiramente. A situação desportiva pode explicar-se por vários factores conjunturais, e tem a ver com expectativas e realidade. Fazendo uma breve resenha histórica das últimas tês épocas constatamos:
Nos primeiros meses em que treinou o Sporting, Rúben Amorim limitou-se a reconstruir uma equipa devastada por acontecimentos recentes. Na época seguinte, com aquisições de qualidade (Pedro Gonçalves, Nuno Santos, Pedro Porro) com a chegada de João Mário por empréstimo, e com lançamento de jovens prometedores (Gonçalo Inácio, Nuno Mendes) e ainda com o regresso de Palhinha, constituiu-se uma equipa que surpreendeu, e contra as expectativas muito baixas (dos adeptos, dos adversários e da imprensa) e conquistou-se o campeonato, sem esquecer que era a única prova que disputávamos e ainda sem adeptos nos estádios para complicar.
Na época que se seguiu, as expectativas estavam muito altas e um pouco de acordo com a realidade. A equipa campeã perdeu João Mário, bem substituído por Matheus Nunes e perdeu Nuno Mendes, sendo reforçada com Sarabia. Deste modo, bateu-se até ao fim pelo primeiro lugar, acabando com os mesmos pontos da época em que se foi campeão. Apenas um adversário da zona das Antas muito reforçado, nos conseguiu ultrapassar.
Nesta época, as expectativas continuaram altas, mas a realidade mudou. A equipa perdeu Palhinha e Matheus Nunes (este com o campeonato já a decorrer) e deixou de contar com Sarabia. Está claro que Manuel Ugarte, apesar da sua elevada qualidade e Morita não são João Palhinha e Matheus Nunes, com a agravante que não estando os médios actuais disponíveis, tem que se recorrer a jovens da formação. Apesar de haver Pedro Gonçalves, não se tem mostrado competente nessa função. Acresce que durante quase toda a primeira parte da época, houve uma quantidade elevada de lesões, sobretudo na defesa.
Se os adeptos não perceberem esta realidade de base e se não a adequarem a expectativas realistas, vão ter razões, que a razão desconhece, para “malhar” em tudo o que mexe. Eu sei muito bem que é polémico “pôr as coisas a nu”. Vão aparecer as teorias que o Sporting tem obrigação de vencer sempre. Em teoria, e como grande clube também o penso, mas também reconheço que para que isso aconteça tem que haver matéria-prima suficiente e de qualidade. E analisando a situação com frieza isso não existe.
Rúben Amorim tem dito que temos uma equipa bipolar. Com equipas ditas grandes temos feito bons jogos, até na Liga dos Campeões, e não foi com elas que perdemos mais pontos. Então coloca-se a seguinte interrogação: sem entrar em contradição com a minha análise, que mantenho, porque é que isto acontece? Deixo à reflexão dos leitores.
Em conclusão, discordo das abordagens que na comunicação social decretam uma crise a qualquer resultado negativo, e sem pôr em causa a vontade de vencer, penso que devemos adequar as expectativas à realidade. Com os pés bem na terra, acredito que mesmo com as limitações descritas, a equipa pode fazer melhor. E ainda falta muito campeonato. Até lá é preciso começar a preencher lacunas, tanto quanto possível.
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