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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Depois de ter estado em serviço nos festejos que foram de Alvalade ao Marquês, depois de ter visto imagens, vídeos, muitos comentários, de ter lido umas quantas coisas, de ter falado com muita gente, amigos, ou apenas conhecidos, cheguei à conclusão que:
O título do Sporting CP é o título dos pacientes e dos nervosos, dos apaixonados e dos que já não ligavam. É o título dos que escolheram acreditar sempre sem ver, dos que deixaram de crer, dos que torciam e continuaram a torcer mesmo não chegando a lado nenhum, dos pais que esperavam e dos filhos adolescentes que nunca tinham sentido.
É o título de todos que abraçaram humildemente o sofrimento como forma de vida, dos que aprenderam a saber perder.
É o título dos viscondes e dos cantoneiros, dos abastados e dos remediados, das pessoas com sobrenomes com dupla consoante e dos Silvas, é dos baby boomers, da geração X, dos millennials e da geração Z. É o título dos posts de Instagram da Dona Dolores. Da aletria do Bancada de Leão. É o título dos confiantes e dos que até final acreditaram que ia acontecer Sporting. É o título dos românticos mas também dos pragmáticos. É até o título dos que se portaram mal e o título dos que fugiram à responsabilidade.
É o título dos não burocratas, dos talentosos, dos que trabalham muito e são bons no que fazem sem precisar de ter passado pela universidade. É o título dos que fizeram all in mas que souberam ir passo a passo. Dos cínicos e dos que com desconhecidos se fundiram num abraço. É o título dos sarcásticos, dos bem-humorados, dos que não se levam muito a sério. É o título que esperavam aqueles que esperam o inesperado.
É o título de quem bebeu um copo a mais. Dos garotos e dos homens de barba rija. Dos que saíram para a rua e dos que ficaram em casa. Dos que sentiram um aperto no peito quando começou o "You Can't Always Get What You Want" naquele vídeo ("but if you try sometimes, well, you just might find...").
É o título dos que acabaram de chegar e de todos os que já cá não estão. É o título do meu sobrinho e é o título do meu tio António. É o título dos que se emocionam sem pedir desculpas - e não têm de o fazer. É o título de quem usa rastas e de quem usa polo, é o título de famílias inteiras e o da ovelha negra. É o título de Lisboa, do Porto, dos Açores e de Maputo.
Sejamos do Sporting, do FC Porto, do Benfica ou do Tondela, o título do Sporting também é o título do futebol. Ou... do porquê de gostarmos tanto do futebol. Porque só podemos gostar de futebol se gostarmos das ricas histórias que ele nos dá. Das possibilidades. Do impremeditável. Tudo o resto é sectarismo.
Artigo da autoria de Lídia Paralta Gomes, em Tribuna Expresso
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