Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Assim que terminou o jogo com o Belenenses em Alvalade, Bruno de Carvalho apressou-se para o seu bilionésimo post no Facebook. Escrito a quente, procurando aliviar as costas de responsabilidades, colocou-se na pele do adepto desiludido e atirou-se ao treinador e aos jogadores. Nem o futsal escapou. Como se não fosse ele o presidente do Clube, pediu desculpa aos sportinguistas, ao mesmo tempo que sacudiu a água do capote. Os erros são dos outros.
Depois de quatro anos de “cultura de exigência”, de muitas voltas olímpicas aos estádios e de variadas entrevistas aos jornais, ocorreu a Bruno de Carvalho que pode ficar com a carne, enquanto os outros roem os ossos. Não pode, porque, no regime que instituiu no Sporting, é ele o primeiro responsável. Isto consta nos seus programas eleitorais e em inúmeras dissertações suas sobre o funcionamento do Clube. É ele que tem de dar a cara se a época foi mal preparada, se houve fracasso na generalidade das contratações e se as promessas de vitórias ficaram todas pelo caminho.
No Sporting não existe alguém com autonomia de funções e pensamento próprio que faça a ligação entre o presidente e o treinador. Que tenha autoridade e conhecimento, simultaneamente. Por exemplo, não há um director desportivo de facto, com competência funcional, que apoie a Direcção na análise e na responsabilização de decisões. Não é necessariamente mau, muitos clubes funcionam assim, mas isso coloca Bruno de Carvalho no topo da cadeia de responsabilidades pois é a figura omnipresente e omnipotente.
Tudo se complica quando se sabe que ele é absolutamente desconhecedor da realidade e dos meandros do futebol. Que esse desconhecimento é agravado pelo deslumbramento e pelo convencimento pessoal. Mas, ainda fica pior, quando nele há um invulgar sentido de irresponsabilidade e de ausência de capacidade de autocrítica. Ao fim deste tempo todo, o presidente ainda não percebeu que tem de organizar o futebol do Sporting. Nem percebeu aquilo que correu mal e que tem de ser corrigido. Ninguém consegue tapar o sol com uma peneira.
Mais uma vez, Bruno de Carvalho vem para a rua gritar que “tudo tem de ser diferente na próxima época”. Na verdade, nada adianta gritar muito alto, se não preparar o Clube para vencer. Ainda vai ser pior do que aquilo a que estamos a assistir este ano. No Sporting, percebe-se que é volátil tudo o que foi feito nestes quatro anos, que nada resiste a um abanão. Não há estrutura, não há resiliência. Não há estratégia, não há projecto. Tudo é efémero, tudo muda à velocidade da luz, apenas permanece a “luta contra tudo e contra todos”.
Em casos assim, quando as coisas correm mal, cada um procura salvar a pele e fugir para longe dos problemas. Continuando desta forma, como tem acontecido até agora, no próximo ano, por esta altura, os sportinguistas estarão confrontados com o espectro de eleições antecipadas. Ou porque já foram marcadas. Ou porque terão de ser marcadas. É que esta rotina de gabarolice e de prosápia, seguida de fracasso e de pedido de desculpas, conduz sempre inevitavelmente ao desastre.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.