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Depressão de cultura anti-Sporting

Drake Wilson, em 20.09.16

 

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Estive em Madrid esta semana passada, a convite, onde assisti ao jogo que opôs o meu Sporting ao emblema espanhol. Viajei com a equipa, o que me fez sentir um privilegiado. Há muito tempo que não convivia com tal sensação. Alguns anos passaram desde que assisti ao último jogo no Santiago, onde sempre que lá estive procurei curiosamente por diferenças estruturais em relação aos clubes portugueses, aquelas que nos colocam num patamar inferior. E assim, desta vez, me inspirei a escrever este texto. Em Madrid, a parte 1. Já em Lisboa, a parte 2.

 

Como se define a grandiosidade de um Clube?

 

A maioria das respostas que encontramos ao questionar a grandiosidade de um clube, são vulneráveis aos dados factuais ou emocionais que cada um deseje ou pretenda remeter. Enquanto uns defendem que a grandiosidade é alcançada pelos números em títulos e consequente exposição global como marca vencedora, outros referem a grandiosidade como uma manifestação de princípios e valores como instituição, alcançados ao longo de todo um processo temporal e reconhecidos pela sua legião de adeptos. Podem as duas vertentes ser conciliáveis? Provavelmente nunca, pois a manutenção da grandiosidade baseada em títulos obriga invariavelmente um Clube a envolver-se numa tida cultura mercantilista, mais comprador do que criador, mais ordenador de “show business” e menos ligado a decisões emocionais do seu capital humano – os jogadores e adeptos. No fundo, abdica do tal processo temporal, transforma todas as suas decisões em operações, a sua riqueza em produto, remetendo o emblema ao tal imediatismo mercantilista. Torna-se assim "obrigado" a ganhar sempre, quase como um Status Quo, afim de não cair em desgraça. Ou em esquecimento.

 

Só existe um caso onde a conciliação de personalidade mercantilista/histórica de um clube é possível – em Inglaterra. E porquê? Analisemos o enorme legado colonial do país e observemos as nacionalidades dos maiores investidores em clubes da Premier League. Depois, a ligação paradigmática das suas gentes ao que o seu país representa. Por fim, o produto interno bruto per capita britânico e os valores dos contratos comerciais de "broadcasting" envolvidos fazem o resto. E aí percebemos porque tal é possível.

 

Num país como Portugal, onde o Produto Interno Bruto actual rondará os 290 Biliões de Euros, ou mesmo onde o sistema bancário definha na ânsia do apoio estatal, seria um suicídio para qualquer um dos grandes procurar a via mercantilista para sustentar a sua competitividade e crescimento. Porque na melhor das hipóteses tal duraria 6/7 anos, até o clube finalmente dissolver. Em Portugal, o primeiro emblema a cair foi na realidade o Sporting, que hoje vive das directrizes de um plano de reestruturação que não garante a absolvição. Não garante, pois todas as medidas foram tomadas para defender os credores em caso de incumprimento. O rival Benfica esteve bem próximo do mesmo fim em 2014, não tivesse a aptidão de um dos seus gestores como as boas ligações ao mercado conseguido inverter um declínio expectável. Segue-se o Futebol Clube do Porto, num dramático caminho que tanto o pode levar a reencontrar-se com a história como o levar a um lastimável fim. E esta é a verdade.

 

Grandiosidades à parte, o que torna o Sporting diferente para melhor.

 

Clubes como o Sporting – tal como em semelhança poderia referir diversos clubes britânicos – adquiriram a sua grandiosidade pelo específico posicionamento cultural no qual envolveram a sua génese de origem como a própria fundação de princípios e valores desportivos. São clubes com uma génese assente na matriz saxónica do desporto. Uma matriz que promoveu a sua imagem ao mundo, tornando-os grandes mesmo antes de décadas e décadas de títulos alcançados. Como tal, o Sporting não é um Clube ecléctico por acaso. É, porque na realidade assim se materializou pela cultura do seu fundador. Por uma razão de sua própria crença, nunca por vaidade. O Sporting tem como instituição uma imagem ao nível de um Manchester United, de um Liverpool, ou mesmo de um Celtic de Glasgow. Só que simplesmente está em Portugal e não nas ilhas Britânicas. E infelizmente, a maior parte dos adeptos do nosso Clube não têm a verdadeira noção da importância do Sporting lá fora. Pior, só mesmo aqueles que acreditam que isto é conversa – provavelmente os mesmos que têm de navegar na Internet para saber em que parte do globo se situam as Filiais do Sporting, ou que recorrem à imprensa desportiva italiana pela ânsia de um artigo sobre o filão de Alvalade – a sua formação.

 

O que torna o Sporting diferente. Para pior.

 

Infelizmente em Portugal – porque no estrangeiro ninguém lhes presta atenção ou mesmo os conhece – Jorge Jesus e Bruno de Carvalho promovem um inconveniente folclore muito próprio de quem não sabe estar em público. O irresponsável treinador que não sabe os ténues limites do que é ou não aceitável em pleno jogo de Champions, a procurar sair como herói de mais uma noite frustrante onde invariavelmente prejudicou o Sporting. Mas frustrante para mim, que lá estive. Não para ele, que acredita que em Madrid lhe irão fazer uma estátua. Eu, que estava nas bancadas, assisti à triste e ridícula figura de Jesus nos últimos minutos, que bem serviram de entretenimento aos deliciados madrilistas.

 

Confesso não ter sentido o tal terremoto que Bruno de Carvalho referiu ter sucedido na capital espanhola. Mas reconheço o enorme desprezo a que foi remetido no convívio entre direcções, onde a sua súbita fuga para um lado qualquer deixou de plantão um director com cargos presidencialistas. Lastimável. Uma falta de sentido de Estado, de quem não sabe nem consegue fazer melhor. E não será por falta de aviso de certeza.

 

Depois de Madrid, Vila do Conde. Depois de Vila do Conde, mais um discurso para menores de 12 anos à Nação Sportinguista, e para mim já chega.

 

Nunca acreditei neste projecto actual do Sporting. Irrealista, demagógico e insustentável é como o analiso. Um projecto especulativo cujo valor é claramente inferior ao que aparenta, que não tem pessoas certas nos lugares certos, ou tão menos a visão necessária para o dia de amanhã. Um sonho irrealizável de alguém que acredita numa psicótica blasfémia de grandeza, sem a entender sequer. Sem valorizar a grandeza que o Sporting já tinha antes de nascerem; o que eles desejam é ter a grandeza dos outros, talvez infelizes por terem nascido sportinguistas ao invés de benfiquistas ou portistas. Estarmos em 1º lugar, 2º ou mesmo terceiro é totalmente irrelevante. Porque por seu mérito, o Sporting não irá ser campeão. Nem neste, nem no próximo ano.

 

publicado às 11:14

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10 comentários

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De Profeta a 20.09.2016 às 12:13

Ainda ontem encontrei este vídeo que demonstra que pela sua origem, o Sporting é um clube com uma identidade muito própria, ao contrário dos seus rivais. Isto sim, era algo que os sportinguistas nunca deveriam prescindir: https://www.youtube.com/watch?v=5sQ1F6TOUq0 (o Ricardo Serrado até é benfiquista)

Quanto ao BdC e ao JJ, eles estão somente de passagem. Para mim eles não tornam o Sporting em si diferente do que é.

Também não acredito neste projecto. O Sporting até pode ser campeão, mas não vejo um plano a longo-prazo. Até pode ser este ano campeão, mas confesso que não terá o mesmo sabor que a conquista de 1999-2000 0u de 2001-2002, pelo simples facto que hoje querem fazer do Sporting um clube diferente do que sempre foi. Mas claro, se for campeão que o seja, naturalmente.

Mas se o Sporting tiver que cair para que todos acordem para a vida e para que a verdade seja reposta, então que caia! Como isto está, acho que só assim poderemos voltar a ser um clube honrado, que fale verdade aos sportinguistas, e que tenha um verdadeiro projecto desportivo para o Sporting.
Nós já estamos obrigados a sofrer e a esperar, que se tivermos que esperar mais uns anos, pessoalmente, já nem me importo.

É que a questão do BdC e os restante troupe quererem a grandeza dos outros. Eles simplesmente entraram no Sporting com uma mão à frente e outra atrás aproveitando-se do momento frustrante que o Sporting vivia naquela altura, e hoje tudo fazem para manter o tacho a qualquer custo! É gente que nem merece fazer parte da história do Sporting.

PS: Que venham lá os julgamentos de carácter a este meu comentário, que nem quero saber!
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De Ripadas a 20.09.2016 às 14:12


O Ricardo Serrado é mesmo benfiquista?

https://www.youtube.com/watch?v=LrkhpLFc8qI
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De Profeta a 20.09.2016 às 14:19

Dizem que é. Até pode não ser.

Mas parece-me que é muito rigoroso e independente nas suas próprias análises. Quanto ao vídeo em si, isso tem uma razão de ser, e até estou de acordo com o Ricardo Serrado.

De qualquer modo, isto nada tem a ver com o tema do post, pelo que é melhor que cada um fique na "sua".
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De Ripadas a 20.09.2016 às 15:47


De repente foram-se as certezas e é melhor que cada um fique na "sua"!

Como queira, se assim lhe convém.

Eu por mim prefiro a verdade.



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De Profeta a 20.09.2016 às 16:15

Que cada um fique com as suas verdades, melhor dizendo.
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De Ripadas a 20.09.2016 às 16:34

Verdade conveniente não me interessa. Faça bom proveito.
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De Profeta a 20.09.2016 às 16:39

Mas qual verdade conveniente? Do Ricardo Serrado ser benfiquista ou sportinguista? pffff
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De Ripadas a 20.09.2016 às 17:05


Isso é o que menos me interessa desde que seja verdadeiro e coerente!

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De Profeta a 20.09.2016 às 17:12

Ok. E onde me provou que o Ricardo Serrado não é benfiquista? Eu parto do pressuposto que o é pelo que tenho ouvido dizer. Nada mais que isso.
Mas se não o for, tudo bem.

Veja lá quem não estará a ser coerente...
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De Ripadas a 20.09.2016 às 17:54

Repito: não tenho interesse em saber se é benfiquista ou sportinguista.

Mas quando diz "Ainda ontem encontrei este vídeo que demonstra que pela sua origem, o Sporting é um clube com uma identidade muito própria, ao contrário dos seus rivais" já tenho alguma curiosidade em saber o que suporta essa demonstração.







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