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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
O treinador Álvaro Cervera foi despedido do Cádiz, da primeira divisão espanhola.
A notícia teria a banalidade própria de mais uma mera chicotada psicológica, não fora a circunstância de, na hora de saída, a ‘afición’ do clube o ter brindado com uma estrondosa ovação. E não era por menos, Álvaro Cervera treinou o Cádiz CF mais de cinco anos e cometeu a proeza de o levar da terceira divisão ao estrelato da La Liga. Assentou bem aos adeptos ter memória e gratidão, valores raros no mundo cão do futebol.
Não sei quando é que Rúben Amorim vai abandonar o Sporting, nem em que eventuais circunstâncias o fará. Espero bem que só daqui a muitos anos e muitos títulos. Sei que, independentemente do que o futuro reserva, deixará uma marca indelével na história do clube. E não apenas pelos resultados desportivos, que, como é evidente, pesam sempre.
O que torna Amorim tão especial é a linearidade da sua comunicação, com um discurso, ao mesmo tempo profissional mas também muito alegre e descontraído, que de algum modo espelha a forma como a equipa joga.
O acento tónico no colectivo, a defesa intransigente dos jogadores quando criticados, a recusa absoluta de narcisismos, bodes expiatórios e recriminações, tão em voga noutros treinadores, a grande lucidez e a ironia, são as suas marcas de água. Poucos treinadores se identificam tão bem com os valores do Sporting. Só tenho que agradecer ao próprio e a quem teve a ousadia de o contratar.
Já se viu que Rúben não vai em cantos de sereia, não é vira-casacas e tem um projecto de crescer com o clube. Se ele se tornar no Alex Ferguson do Sporting, encantado! Mas se alguma proposta milionária o resgatar, ou mesmo numa muito improvável contingência de rescisão unilateral por via de maus resultados, a minha gratidão mantém-se, por tudo o que ele deu e devolveu ao meu Clube.
Rúben, mesmo que saias a mal (o que não antecipo claro!), se vires um velhote do outro lado da rua a aplaudir forte, sou eu. E tenho a certeza que terás alguma dificuldade em me identificar, porque serei um entre muitos.
Artigo da autoria de Carlos Barbosa da Cruz, em Record
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