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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Em condições normais, o Sporting elegerá no próximo sábado o 44.º presidente da sua história.
7 candidatos é um número brutal e mostra duas coisas:
1) A facilidade com que se pode chegar à presidência de um clube com a dimensão do SCP.
2) A grande dificuldade de não se achar uma figura suficientemente mobilizadora e agregadora para protagonizar uma liderança que represente um futuro minimamente consistente na vida do SCP.
Os últimos debates têm revelado a dificuldade de todos os 7 candidatos em projectar a ideia de uma superioridade indiscutível: seja pelo projecto, pela palavra e imagem ou seja por aquilo que representam, representaram ou podem representar no clube de Alvalade.
Considerando os défices, as lacunas e um poço sem fundo de problemas para resolver, parece um dado adquirido que ‘a crise do Sporting’ não se vai resolver na próxima presidência. Pegando no número de candidatos, são 7 os principais problemas que afligem o Sporting:
1. UNIÃO E LIDERANÇA
… Ou a falta delas. É uma das questões que mais perturba o Sporting e que, no fundo, muito se relaciona com a natureza da liderança. Ou oito ou oitenta. As facções, os desencontros, a dificuldade de se estabelecerem pontes e mínimos consensos minam o clube por dentro e enfraquecem-no nas lutas externas. O Sporting necessita de recuperar uma imagem de respeitabilidade. E isso só se consegue com equilíbrio (sem perda de firmeza). Estas eleições, considerando o excessivo número de candidato e a fragmentação de votos, não vão fazer baixar o ruído.
2. HERANÇA(S)
A fragmentação de votos e a possibilidade de muitos sócios optarem por não votar vão aumentar a ‘corrida por fora’ de Bruno de Carvalho. Pode até Bruno de Carvalho ser expulso de sócio (cenário mais provável), pode até não conseguir mecanismos funcionais e legais para voltar à ribalta, mas — pelo que se conhece do seu modus operandi — não fará nada para agregar. Será sempre um elemento desestabilizador e o futuro do Sporting, nestas condições, será muito difícil de construir. É preciso ter essa noção.
3. LIMPEZA
A Comissão de Gestão fez os possíveis para ‘curar e colar’ mas é óbvio que a sua tarefa foi no sentido de assegurar alguma governabilidade e o anti-caos. Há um mundo de realizações a cumprir. O Sporting precisa de se preparar para a próxima década. E aquilo que fizer de errado agora vai pagar no decénio 2020-30.
As saídas para o desbloqueio da situação financeira são prioritárias, mas o Sporting não tem apenas um problema financeiro. Tem um gravíssimo problema de modelo de organização de todo o seu futebol. E considerando a complexidade e as brechas abertas com Bruno de Carvalho, há um trabalho essencial de desminagem e limpeza que o próximo presidente e a sua equipa têm de assegurar. O Sporting não terá futuro se não souber conciliar um plano de curtíssimo-prazo com um plano de médio e longo prazos.
A questão crucial é saber se haverá coragem para fazer esse trabalho. Em Alvalade e em Alcochete. Cortar pela raiz as ervas daninhas.
4. COMUNICAÇÃO
Uma das prioridades é encetar um novo ciclo na área da comunicação. A imagem dada por Bruno de Carvalho e Nuno Saraiva, neste domínio, foi terrível. O Sporting perdia facilmente a razão, quando eventualmente a tinha. Foi estranho que a Comissão de Gestão tenha sido romântica na abordagem deste tema. As ligações ao regime de Bruno de Carvalho, pelo dano que causaram, causam e ainda vão causar à instituição durante anos a fio, deveriam ter sido interrompidas. A comunicação do Sporting, com Bruno & Saraiva, atingiu os sportinguistas de uma forma gravemente desrespeitosa. Esse facto não pode ser branqueado e todos passaram por cima do quisto.
5. TRANSIÇÃO NO FUTEBOL
José Peseiro foi achado pela Comissão de Gestão para ocupar o lugar deixado em aberto através do abalo provocado pela ‘invasão de Alcochete’. Foi uma boa decisão porque o Sporting precisava, no período de transição, de um treinador com vivência e experiência mas também com um grau elevado de sensatez. Sempre afirmei que o Sporting, no tempo de Bruno de Carvalho e Jorge Jesus, tinha todo um mundo (de recursos) para explorar e optimizar entre eles. Não é fácil para Peseiro perceber que é um treinador a prazo. Já fez o mais difícil: manter a equipa competitiva num período crucial. O novo presidente terá uma decisão a tomar: dar-lhe ou não um voto de confiança… imediato.
6. FORMAÇÃO E ACADEMIA
Queira ou não queira, o Sporting está muito atrasado em relação ao Benfica, na formação e nas respectivas Academias. O que quer dizer que, primeiro, é preciso definir estratégias no sentido da modernização e da requalificação de ‘Alcochete’. A Formação não está a funcionar bem - e não basta acenar com a ‘bandeira’ dos "Ronaldos e dos Figos". Quem ignorar esta realidade estará a contribuir para que se continue a falar em ser campeão sem se criarem as condições essenciais nesse sentido.
7. RELAÇÃO COM OS PODERES
A tarefa ciclópica é de reestruturação externa (uma montanha de prioridades) mas o Sporting tem de saber relacionar-se com os poderes. Sem os afrontar inconscientemente mas sem se mostrar adormecido. O Sporting tem, de facto, trabalho de muita paciência para os próximos 10 anos.»
Rui Santos, jornal Record
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