Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Jorge Jesus entra no Sporting na ressaca do processo Marco Silva. Com despedimento anunciado ainda com a época a decorrer, o técnico vencedor da Taça de Portugal, primeiro e único título relevante do consulado de Bruno de Carvalho, viu-se envolvido num processo disciplinar de uma hipocrisia triste e lamentável. O embaraço que este caso causou no mundo sportinguista foi “abafado” com a contratação de Jesus, dispensado pelo Benfica, e permitiu a Bruno de Carvalho ultrapassar a situação airosamente, e ao técnico, continuar a treinar em Portugal como era seu desejo. Conjugaram-se dois desejos, mas com pesados custos para o Sporting.
Jorge Jesus, um bom técnico, ninguém o contesta, mas principescamente pago para a nossa realidade, foi apresentado como um salvador. Ele assim se considerou com a célebre frase “antes havia dois candidatos ao título e agora há três”. E desta afirmação depreende-se que bastava a sua presença para isso começar a acontecer. Mas este Jesus não é Deus, embora pelas suas atitudes de omnipotência e omnisciência assim se considere. Este Jesus é um homem, com virtudes e defeitos, e sujeito às contingências de todos os humanos. A asserção que contratar Jorge Jesus representava a conquista de títulos, invertendo, instantaneamente, como por magia, um ciclo de alguma subalternidade, foi um erro crasso . A base de uma equipa ganhadora e consistente começa pela construção de uma estrutura sólida onde o treinador é mais uma peça e não a peça. Exige um projecto coerente que precisa de caminhar com passos firmes e seguros. E precisa de tempo e de paciência.
Deixando de fora questões técnicas já aqui bastante debatidas, como jogadores lesionados, jogadores desadaptados ou em má forma, tácticas erradas, o principal problema da má prestação da equipa, na minha opinião, é de ordem mental. A derrota de Madrid nos minutos finais de um jogo que parecia ganho, deixou marcas nos jogadores. Um acontecimento similar em Guimarães, onde se passa de uma vitória folgada para um empate em poucos minutos, é a prova da instabilidade psicológica. A falta de confiança entorpece o funcionamento do físico. Neste momento a equipa leonina parece um corpo sem cabeça. A recuperação de uma situação destas é muito mais difícil para qualquer treinador, do que a falta temporária de um ou outro atleta. E quando o treinador se considera acima de outros mortais, e não tem nos seus atributos a humildade para sair do seu Olimpo, mais complicado é reverter a situação.
A prática da arrogância, mais tarde ou mais cedo, vira-se contra quem a pratica. Veja-se o que aconteceu quando na época anterior e com oito pontos de avanço, o Presidente afirmou que “era tempo de termos adversários à altura”. Espicaçou e uniu o adversário directo, que fez da fraqueza força. De igual modo, a desvalorização da competência do treinador Rui Vitória por Jesus, acabou por lhe cair em cima da cabeça.
Os adeptos passam rapidamente da euforia para a depressão, porque têm dificuldade em controlar as emoções e manter os pés assentes na terra. A procissão ainda vai no adro, e o primeiro lugar não está atribuído. É possível recuperar os pontos perdidos, desde que se perceba que não há vitórias antecipadas, nem homens providenciais. Esforço, dedicação, humildade e descrição, eis o caminho para a glória.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.