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Este Jesus não é Deus

Naçao Valente, em 01.11.16

 

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Jorge Jesus entra no Sporting na ressaca do processo Marco Silva. Com despedimento anunciado ainda com a época a decorrer, o técnico vencedor da Taça de Portugal, primeiro e único título relevante do consulado de Bruno de Carvalho, viu-se envolvido num processo disciplinar de uma hipocrisia triste e lamentável. O embaraço que este caso causou no mundo sportinguista foi “abafado” com a contratação de Jesus, dispensado pelo Benfica, e permitiu a Bruno de Carvalho ultrapassar a situação airosamente, e ao técnico, continuar a treinar em Portugal como era seu desejo. Conjugaram-se dois desejos, mas com pesados custos para o Sporting.

 

Jorge Jesus, um bom técnico, ninguém o contesta, mas principescamente pago para a nossa realidade, foi apresentado como um salvador. Ele assim se considerou com a célebre frase “antes havia dois candidatos ao título e agora há três”. E desta afirmação depreende-se que bastava a sua presença para isso começar a acontecer. Mas este Jesus não é Deus, embora pelas suas atitudes de omnipotência e omnisciência assim se considere. Este Jesus é um homem, com virtudes e defeitos, e sujeito às contingências de todos os humanos. A asserção que contratar Jorge Jesus representava a conquista de títulos, invertendo, instantaneamente, como por magia, um ciclo de alguma subalternidade, foi um erro crasso . A base de uma equipa ganhadora e consistente começa pela construção de uma estrutura sólida onde o treinador é mais uma peça e não a peça. Exige um projecto coerente que precisa de caminhar com passos firmes e seguros. E precisa de tempo e de paciência.

 

Deixando de fora questões técnicas já aqui bastante debatidas, como jogadores lesionados, jogadores desadaptados ou em má forma, tácticas erradas, o principal problema da má prestação da equipa, na minha opinião, é de ordem mental. A derrota de Madrid nos minutos finais de um jogo que parecia ganho, deixou marcas nos jogadores. Um acontecimento similar em Guimarães, onde se passa de uma vitória folgada para um empate em poucos minutos, é a prova da instabilidade psicológica. A falta de confiança entorpece o funcionamento do físico. Neste momento a equipa leonina parece um corpo sem cabeça. A recuperação de uma situação destas é muito mais difícil para qualquer treinador, do que a falta temporária de um ou outro atleta. E quando o treinador se considera acima de outros mortais, e não tem nos seus atributos a humildade para sair do seu Olimpo, mais complicado é reverter a situação.

 

A prática da arrogância, mais tarde ou mais cedo, vira-se contra quem a pratica. Veja-se o que aconteceu quando na época anterior e com oito pontos de avanço, o Presidente afirmou que “era tempo de termos adversários à altura”. Espicaçou e uniu o adversário directo, que fez da fraqueza força. De igual modo, a desvalorização da competência do treinador Rui Vitória por Jesus, acabou por lhe cair em cima da cabeça.

 

Os adeptos passam rapidamente da euforia para a depressão, porque têm dificuldade em controlar as emoções e manter os pés assentes na terra. A procissão ainda vai no adro, e o primeiro lugar não está atribuído. É possível recuperar os pontos perdidos, desde que se perceba que não há vitórias antecipadas, nem homens providenciais. Esforço, dedicação, humildade e descrição, eis o caminho para a glória.

 

publicado às 12:46

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10 comentários

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De Nicolae a 01.11.2016 às 13:40

Espero que não me levem a mal comentar, já sabem que sou Benfiquista, mas também um leitor assíduo deste espaço onde tem muita gente que escreve bem sobre futebol, e sempre com um sentido crítico e elevado.
O campeonato passado deveria servir de lição para os nossos clubes. Para o vosso pela forma como superámos as nossas contrariedades, para o meu como a atitude da vossa "dupla" uniu o que não passava de uma manta de retalhos à beira de uma depressão.
O plantel do Sporting é melhor do que tem demonstrado, o do Benfica não tão forte como a tabela classificativa indica. O ano passado o nosso título foi construído pela entrada fulgurante de um miúdo, que apesar de ser um caos táctico queimava as transições em corridas que pareciam uma carga de cavalaria. Isso aliado a uma dupla atacante ferozmente eficaz fez muita da diferença, a união do grupo patrocinada pelos ataques externos fez o resto.
O Sporting pode estabilizar e recuperar a sua dinâmica. Nos vossos 2 últimos títulos, um foi conquistado com as contratações cirúrgicas do mercado de Inverno e o outro com a criação de rotinas entre João Pinto e Jardel, em ambos o Sporting arrancou mal.
O Benfica tem que manter os seus níveis de concentração e evitar a euforia. Se fizer o que tem feito desde Dezembro do ano passado nem a vossa recuperação nos colocará em risco, convém não esquecer que em quase um ano temos um empate e uma derrota, se a memória não me falha. O nosso maior erro será largar a humildade que temos manifestado. Quanto a vocês, é estabilizar, olhar para dentro e resolver os problemas sem alaridos, não compreendo como quem manda no clube ainda não o tenha percebido. E Jesus tem que aprender urgentemente a criar um sistema para os jogadores que tem em vez de forçar os jogadores a jogarem no seu sistema.
Desculpem a invasão, saudações desportivas.
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De Naçao Valente a 01.11.2016 às 16:22

Obrigado pelo lúcido comentário. As opiniões apresentadas com respeito e ponderação enriquecem a discussão. As naturais posições desportivas não impedem que se debata o futebol com espírito construtivo. Uma saudável rivalidade só dignifica a actividade desportiva.
Saudações desportivas
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De jpinto a 01.11.2016 às 19:04

também gostei do comentário

Já agora posso perguntar o porquê do nick ? :)
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De Nicolae a 01.11.2016 às 19:07

Nicolae é mesmo o meu nome, não é nick ;)
Abraço

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