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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
A quarta substituição passa a ser mais um passo na direcção do jogo de tabuleiro e do açambarcamento de talentos pelos tubarões.
Todos os Verões, os treinadores vão a Genebra tirar uma fotografia e conversar com a UEFA, não sei se por esta ordem ou ao contrário. Como aconteceria com um massagista ou um fiscal de linha que fossem à UEFA, os treinadores debatem, acima de tudo, coisas que lhes interessem pessoalmente. Paragens de tempo para dar instruções, substituições extra, mais suplentes.
Ao longo dos tempos, muitas das opiniões deles foram vencendo, migalha a migalha, sempre no mesmo sentido: o do controlo psicológico do jogo por quem o orienta a partir do banco, aproximando-o cada vez mais (perdão pelo lugar comum) da proverbial Playstation. O último episódio foi a entrada da quarta substituição nas leis do futebol, anteontem, de mãos dadas com o vídeo-árbitro.
Para quem se preocupa mais com o espectáculo, cada substituição ou espaço que se abre à maior intervenção do treinador no jogo devia ser um problema, porque são ataques à espontaneidade e à surpresa. Permitem a quem marca um golo tomar medidas imediatas para o defender, por exemplo. Mas também formata a acção dos treinadores e o próprio conceito do jogo. Não precisam de montar equipas ofensivas, nem defensivas, nem capazes de se gerirem autonomamente. É sempre possível dar-lhes uma volta completa a qualquer instante.
O pior desta quarta substituição, só permitida nos prolongamentos, nem será tanto o facto de ser mais um contributo para transformar o futebol em xadrez. O pior, num contexto em que se discute o distanciamento dos clubes ricos, é tomar uma medida que favorece, outra vez, quem tem dinheiro para comprar mais e melhores jogadores. E dar-lhes uma boa razão para continuarem a açambarcar talentos. Onde pára o Jorge Valdano?
José Manuel Ribeiro, jornal O Jogo
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