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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Há cada vez mais gente, a pedir a intervenção estatal, pela bagunça em que se transformou o futebol em Portugal. Raro é o dia em que não aparecem testas de ferro, ou até dirigentes, a alimentar guerras sujas nas palavras e nos actos. Sejamos claros: os dirigentes dos nossos clubes, especialmente dos chamados grandes, portam-se como senhores feudais dos tempos modernos. Espaldados nos seus milhões de adeptos, que tratam como clientelas, não se respeitam, não respeitam as leis do desporto, e nem respeitam as leis da República. E apesar de alguns se arvorarem em santinhos salvadores, isso não passa de pura hipocrisia. São todos iguais, embora possa haver uns mais iguais que outros.
O senhor do Norte, com a experiência de macaco velho, adaptou-se à mudança das circunstâncias que se geraram após o Apito Dourado. É agora mais comedido, porque sabe que o tempo da impunidade que cavalgou, magistralmente, já acabou. E não cai na esparrela do criminoso que volta ao local do crime.
O do clube da Luz, soube tirar proveito da conjuntura dos últimos anos, o período mais obscuro do clube do Norte, e incensado pela conquista de quatro títulos seguidos, pode dar-se ao luxo, de se manter protegido numa espécie de redoma de sonsice, deixando o trabalho sujo para encartilhados e outros falhados.
O do clube de Alvalade, eleito e reeleito, como salvador, como Deus "ex machina", sedento de poder e de protagonismo, enredou-se ao longo dos seus mandatos, numa teia de equívocos e de erros de palmatória. Confundindo presidência com chefe de claques, confundindo luta com pesporrência e malcriadez, não trouxe nada de novo, e diga-se que nem soube aproveitar o período negro do clube do Norte.
Em suma, são fruto do tempo que vivemos, da desvalorização dos grandes valores. São iguais no seu comportamento, senhores feudais, ou seja, personagens desenquadrados do Estado de Direito. Sentem-se não só acima da lei, mas fora dela. E quando são castigados no âmbito dessa mesma lei, aqui-d`el-rei que estão a ser oprimidos. E quem ousar enfrentá-los tem a folha feita. E todos, os três referidos, têm uma coisa em comum: não tinham onde cair mortos (uns mais que outros) e utilizam o futebol como modo de vida.
Por essas e por outras, não acredito (oxalá me engane) que o poder político queira e venha a intervir neste lodaçal. Porque o poder político tem medo destes personagens. Porque o poder político não quer sujar as mãos, e melhor, como Pilatos, quer lavá-las desta sujeira, pela inércia. Porque o poder político precisa dos votos dos adeptos, que também são eleitores, e que agem, na sua irracionalidade clubística, sempre (ou quase) a favor dos seus mentores. Porque tem mais com que se preocupar, e que é muito mais importante do que se passa no submundo do futebol.Por exemplo, eu li aqui, neste espaço, a propósito dos contratos com as empresas que fornecem serviços televisivos, um comentário de um adepto sportinguista a dizer que ia ostracizar aquelas operadoras que não tinham feito acordo com o nosso Clube. Por isso, não me admira, e o poder político sabe, que essa irracionalidade se projecte no cidadão-eleitor, salvo nas honradas excepções.
Estamos portante num impasse, num pântano de irresponsabilidade, num espectáculo degradante, onde não há ninguém para dar um murro na mesa, ou porque não pode, ou porque não sabe, ou porque não quer. Para finalizar uso uma expressão popular, que se deve adequar como uma luva: 'estamos entregues à bicharada'.
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