Fotografia com história dentro (195)

Artur José Pereira, o Sporting e a fundação do Belenenses

Leão Zargo, em 26.04.20

“Ó Jorge, diz ao Artur que vá à merda e que funde o tal clube em Belém”. Na verdade, qual é o momento fundacional de um clube desportivo? Por exemplo, quando a maior estrela do futebol do seu tempo se liberta do clube onde está a jogar para finalmente poder fundar o clube do seu coração.

A história conta-se rapidamente. Em 1919, Artur José Pereira jogava no Sporting depois de ter protagonizado em 1914 a maior transferência no futebol português até essa altura. Por razões disciplinares tinha sido suspenso pelo Benfica durante seis meses e ele aceitou uma proposta de Francisco Stromp para jogar nos leões a troco de uma determinada quantia mensal. Tratou-se de um acordo meramente verbal.

O jogador vestiu de verde e branco durante cinco anos, mas acalentou sempre o sonho de fundar um clube na zona de Lisboa onde tinha nascido (na Rua do Embaixador, perto das Salésias). Mário Duarte diria mais tarde que “[Artur José Pereira] não queria abandonar o futebol sem deixar em Belém, berço de muitos dos melhores futebolistas lisboetas, um grupo digno e capaz de defender brilhantemente a sua terra que ele tanto estimava como depois tive ocasião de apreciar”.

Artur José Pereira considerava-se em dívida para com Francisco Stromp, pela amizade e pelo tratamento cortês que sempre recebeu. Assim, para evitar o temperamental capitão-geral do Sporting, recorreu ao seu amigo Jorge Vieira, futebolista leonino, para que este metesse um empenho que o libertasse do compromisso que assumira. Foi aí que, irritado, Stromp proferiu uma frase profética: “Ó Jorge, diz ao Artur que vá à merda e que funde o tal clube em Belém”. De facto, pouco tempo depois, em 23 de Setembro de 1919 na Praça Afonso de Albuquerque, era fundado o Clube de Futebol “Os Belenenses”!

Na fotografia, equipa do Sporting em 1915-16 com os três protagonistas desta história.

Em cima - Artur José Pereira, Raul Barros, Augusto Paiva Simões, Boaventura da Silva, Jorge Vieira e Amadeu Cruz;

Em baixo - Marcelino Pereira, Jaime Gonçalves, Alfredo Perdigão, Francisco Stromp e John Armour.

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publicado às 13:30

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5 comentários

De FF a 26.04.2020 às 20:20

Boa-tarde, Leão Zargo
Ao menos o Belenenses não procurou uma data anterior para a sua fundação, para tentar iludir as pessoas com uma pseudo-antiguidade, ao contrário do clube de Carnide que tendo sido fundado a 4 de Setembro de 1908, data da junção dos clubes Sport Lisboa (fundado a 28 de Fevereiro de 1904) e Grupo Sport (fundado a 26 de Julho de 1906) clube este que praticava essencialmente o ciclismo. Daí a roda de bicicleta no respectivo emblema. Verifica-se aqui o facto curioso da cria ter a mesma idade do progenitor. Isto apenas demonstra, em minha opinião, a fraude que tem sido esse clube desde o seu início. Para além dos títulos que ostenta, em futebol e no futsal, muitos deles conseguidos com a preciosa ajuda de certos assopradores de apito, tem sido pràticamente uma constante o recurso a ilegalidades, de que exemplifico com o rapto do Eusébio. Enfim, não vale a pena perder mais tempo com tão ruim defunto.

De Leão Zargo a 26.04.2020 às 21:59

Caro FF

O Sporting até tem uma particularidade: passou a data da fundação de Maio de 1906 para Julho de 1906!

De João Paulo Gonçalves a 26.04.2020 às 22:30

FF, o FCP não lhe mete também confusão?
Durante mais de 80 anos teve uma data de fundação na primeira década do séc XX, com um fundador reconhecido, e, de repente, descobre que foi fundado em mil oitocentos e troca o passo...
Mas ok, esses não vestem de vermelho...

De ChakraIndigo a 26.04.2020 às 23:56

O Benfica nunca procurou datas para a fundação, porque sempre assumiu, desde a sua origem, que o Sport Lisboa e Benfica era o resultado da junção entre o Sport Lisboa e o Sport Benfica, e como os associados, os jogadores, os dirigentes, eram todos comuns, considerou desde sempre como data de fundação a data do Sport Lisboa.

Inclusive, Ricardo Serrado, historiador e adepto do Sporting, que foi director do Museu do Benfica, e posteriormente do Museu Sporting, assim o considera.

É um assunto polémico, reconheça-se, mas nós benfiquistas honramos aquilo que foi decidido pelos nossos fundadores.

De resto, é um assunto de certa forma estéril.

De FF a 27.04.2020 às 12:15

Caro João Paulo Gonçalves,
Por não ter referido o presidente do FCPorto não significa que o tenha em consideração, pois não me esqueci do "apito dourado". Tal como o presidente do seu clube foi e é igualmente responsável pelo estado do futebol em Portugal.Se me referi apenas ao seu Benfica foi pelo facto do clube ter um histórico pouco digno e pelo actual presidente, tratando-se de um polvo conforme referido pelo New York Times, cujos tentáculos tomaram conta de grande parte das instituições públicas, nomeadamente no que à justiça diz respeito.Quanto à cor, devo dizer que nunca gostei do vermelho não só por ser a cor do Benfica, mas principalmente por ser a do comunismo.Para terminar, não percebo como é que os sócios benfiquistas toleram um presidente, criminoso cadastrado e que utiliza o clube no seu próprio interesse e cuja fortuna tem origem, no mínimo, duvidosa.