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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Pedro Barbosa vestiu a camisola leonina durante dez épocas, de 1995-96 até 2004-05. Contratado pelo Sporting para substituir Luís Figo, dotado de uma técnica assombrosa, considerado um dos jogadores mais virtuosos da sua geração, que tecnicamente superava tudo e todos, demorou a demonstrar todo o seu valor. Chamaram-lhe “Pastelão” e “Pedro Vagarosa”, mas na verdade ele era um falso lento, criativo e imprevisível, o pêndulo que organizava e distribuía o jogo. Com bola, a jogar pelo centro e em apoio frontal, definia os posicionamentos e movimentações que contribuíam para o controlo do jogo.
Sendo o seu talento inegável, não conheceu uma carreira de maiores voos internacionais em virtude da irregularidade das suas geniais exibições. Com ele, o Sporting conquistou dois campeonatos nacionais (1999-00 e 2001-02), uma Taça de Portugal (2001-02) e duas supertaças Cândido de Oliveira (1999-00 e 2001-02), tendo contribuído decisivamente para a caminhada europeia em 2005. Foi um verdadeiro desportista, não me recordo de uma única atitude desleal enquanto futebolista.
Pedro Barbosa reinventava o gosto mais antigo pelo futebol enquanto forma de arte que sempre nos maravilhou e nos fez sonhar. Por isso, e pelo sportinguismo do grande capitão, José do Carmo Francisco dedicou-lhe um belíssimo poema:
Pedro Barbosa - com o número 8
Desenhas o teu jogo com um compasso
Com desprezo do esforço e do excesso
Onde não há, tu inventas novo espaço
Levando a bola até onde já não a meço
Tão veloz que não permanece na retina
E apenas surge no golo em conclusão
Afagas a bola numa ternura repentina
Como se de repente o pé tivesse mão
“Feito num oito” fica quem tu enganas
No drible mais inesperado e imprevisto
Em vez de dias tu permaneces semanas
Na memória de quem fez o seu registo
Tu não és o altivo artista mas o artesão
E se jogas sempre de cabeça levantada
É porque a distância da bola ao coração
É tão pequena como um grão de nada
(José do Carmo Francisco, “Pedro Barbosa, Jesus Correia, Vítor Damas e outros retratos - Poemas”, Col. Cais da Poesia, Padrões Culturais Editora, Lisboa, 2004)
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