Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
A segunda série de comentários humorísticos por Rogério Casanova, jornal Expresso, sobre a performance dos jogadores do Sporting no jogo de domingo passado com o Chaves:
Lance paradigmático aos 7 minutos: depois de uma perda de bola de Gelson e desposicionamento de Esgaio, mostrou noção perfeita do espaço que podia cobrir, deu passos na direcção certa, desarmou um contra-ataque potencialmente perigoso antes sequer de o rastilho acender, e transformou o sobressalto em novo ataque com dois toques simples. A segunda parte da equação nem sempre lhe corre tão bem (e falhou o único passe mais arriscado que tentou), mas é intratável nos duelos individuais, sabe usar o corpo como poucos, e desde que se refugie na lucidez que possui, pode vir a dar melhor jogador do que alguns (eu, por exemplo) adivinhavam.
Uma exibição de capoeira a decorrer em permanência no interior de um TGV: para o bem e para o mal, Gelson é isto. E é quase tão difícil assimilar aquela hiperactividade enquanto colega do que enquanto adversário. Formou, nos primeiros 45 minutos, uma intrigante tripla de trincos todo-o-terreno com Adrien e Podence: um vendaval de intensidade sem bola que mostrou um vislumbre daquilo que poderia ter sido uma época diferente. Com bola, a intermitência do costume na decisão, mas capacidade suficiente para desequilibrar sempre que quer, e para somar mais uma assistência.
O grande passe para isolar Jefferson na esquerda logo a abrir terá sido a sua intervenção ofensiva mais vistosa, mas mostrou mais esclarecimento intuitivo com bola e mais energia nas compensações frenéticas sem ela do que tem sido norma nas últimas semanas e isso contribuiu subterraneamente para aquilo de bom que a equipa fez. Ao minuto 38, aproveitou a primeira ocasião que teve para protestar (uma falta que, de facto, não cometeu) para soltar alguns meses de frustração acumulada. Como eu o compreendo.
Entrou com quilos a mais no pé esquerdo e, não pela primeira vez, mostrou mais boas ideias (raramente toma uma má opção ofensiva, excepto quando não arrisca o que sabe) do que boa execução. Toque com demasiada força ao minuto 8, outra excelente ideia estragada com passe demasiado longo ao minuto 24, e um livre indirecto pouco depois que proporcionou à bola a oportunidade de conhecer a mesosfera. À passagem da meia hora, desconfiando que se calhar isto de ser canhoto foi uma mentira que lhe contaram na infância, puxou para o pé direito e marcou golo. Ainda não mostra a intensidade e solidariedade defensiva de Gelson, e deixou por duas vezes o seu lateral sozinho contra dois, mas compensou vindo à faixa contrária cancelar um contra-ataque, numa jogada que lhe valeu o amarelo. Saiu pouco depois.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.