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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Substituído prematuramente aos 20 segundos, deixando no seu lugar a cratera fumegante onde outrora, em tempos mais inocentes, a auto-estima de Sebastián Coates existia e respirava e fazia planos para o fim-de-semana. Não fez... não fez um bom jogo.
A dupla de centrais que formou com Cratera Fumegante tinha uma tarefa complicada pela frente: um duelo de noventa minutos com uma dupla de avançados que incluía Douglas Costa. Pode dizer-se que superaram a primeira prova em qualquer confronto com Douglas Costa, na medida em que não levaram um pontapé no peito, uma joelhada nos testículos ou uma cotovelada nas trombas. Nas provas subsequentes - não entregar bolas ao adversário, não falhar cortes fáceis, não perder na antecipação, etc - estiveram ambos um pouco aquém do desejado.
A época tem-lhe corrido bem em termos de sorteios e calendário, providenciando-lhes várias oportunidades de passear por territórios amigos (Barcelona, Luz, Porto, Braga, estádio do Atlético Madrid) e dessa forma enriquecer o seu considerável espólio de isqueiros. Hoje, contra todas as expectativas, não recebeu brindes da bancada, apesar do esforço que dedicou à actividade que melhor pratica depois de jogar futebol: irritar as pessoas que estão a ver futebol. Deu o tudo por tudo quando improvisou uma vasectomia a Griezmann na segunda parte, mas os adeptos da casa não se irritaram o suficiente e a única coisa que conseguiu foi ver o amarelo que o afasta do jogo seguinte. Quando hoje fumar o último cigarrinho do dia, vai ter de usar fósforos.
Ah, Bas Dost, o anjo exterminador, brandindo um gládio em chamas: o seu olho lúcido expõe todos os vícios secretos: dele, dos colegas, de quem os treina, de quem os vê. É como se toda a manobra colectiva se apresentasse perante um tribunal revolucionário: "tu, o que fazes aqui?", "tu, estás a tentar passar a bola a quem?, "tu, onde é que estavas no minuto 72?", "tu, o que é que achas desta porra toda?". Não há boas respostas a qualquer uma destas perguntas, tal como não há boa resposta ao dilema filosófico que Dost representou ao longo de duas épocas: o que fazer, e como jogar, com alguém que parece a solução para todos os problemas em 40 jogos por época, e um problema sem solução nos restantes 10?
Não sabemos exactamente onde foi parar a bola depois do remate que tentou ao minuto 92, a não ser que não acertou em nenhum dos dois alvos úteis naquelas circunstâncias: o fundo das redes, ou em cheio no smartphone do Presidente.
Texto de Rogério Casanova, jornal Expresso
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