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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
(Óleo sobre tela de Inos Corradin)
O resultado do jogo do Benfica com o Nacional gerou uma guerra de alecrim e manjerona. Foi apenas um jogo atípico onde uma equipa "pequena" me pareceu perdida em campo. No entanto, deu azo às mais desvairadas discussões sobre o estado do futebol, e já levou a uma queixa por parte do Nacional, por falta de respeito para com os seus profissionais.
Mas com este jogo não aconteceu nada de novo, nem se alterou o 'status quo' existente no meio. O que estava mal ou bem antes, continua a estar bem ou mal agora. Os chamados "grandes" vêem os ditos "pequenos" como Clubes a quem têm que ganhar sempre e que servem para compor o ramalhete das suas conquistas.
Os "grandes" repartem entre si a maior parte do bolo, porque é essa a lógica do sistema. O dirigismo, com uma ou outra excepção, é recrutado entre gente sem preparação ética, porque pessoas com princípios e valores, tem mais que fazer.
Neste contexto, quanto mais "chico-esperto" for o dirigente, melhor. São estes que vingam e satifazem a massa adepta, com bons resultados conseguidos sem olhar a meios. Gente que não era nada como todos nós, fora do futebol, incham para além da capacidade da sua pele e julgam que têm o rei na barriga, e à frente de milhões de fiéis adeptos acabam por o ter.
O problema do futebol, hoje em dia, é que se substitui à religião como forma de alienação. Esse papel que as igrejas já não representam no mundo ocidental, a não ser em pequenos nichos, é quase exclusivo dos clubes de futebol. Nas doutrinas, nos rituais, no pensamento condicionado, nos dogmas, no "ódio" ao outro, no fundamentalismo nos comportamentos, na incapacidade de distinguir o bem do mal. Nas religiões, cujo suporte é a fé, existe hoje mais racionalidade que no futebol.
O Clube é inquestionável, o seu Presidente uma espécie de semideus. E se este pode ser contestado por não conseguir concretizar os desejos da massa fiel adepta, isto é dar-lhes o "paraíso" pela sua fidelidade, o Clube mesmo que se enrede em esquemas reprováveis e ilegais, nunca é contestado. Está sempre acima de qualquer suspeita.
Ao invés, o outro, de outra "igreja" é o infiel, merecedor de apupos, de insultos, e em casos extremos de violência física. É preciso ressalver, porém, que nesta forma de alienação, existem excepções, mesmo entre os adeptos.
A alienação do pensamento, é o inverso do espírito crítico e da lucidez, e é transversal a toda a sociedade. O futebol enquanto meio alienador vende a ilusão da felicidade eterna. O alienado acredita incondicionalmente e fica feliz por acreditar.
Assim se vai esquecendo deste vale de lágrimas em que vive. E se as religiões perderam importância face ao progresso científico e à evolução do humanismo, não consigo acreditar que isso possa acontecer com o futebol. Futebol e alienação, são a união perfeita.
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