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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Não vou escalpelizar a alegada agressão do jornalista da TVI por um empresário desportivo, em Moreira de Cónegos. O crime é público e não carece de queixa. É um atentado à liberdade de imprensa e, por isso, à democracia. Não vou desenvolver as evidentes ligações de Pedro Pinho ao FCP. A passividade inicial da GNR e as declarações de Pinto da Costa apenas ilustram a impunidade reinante no mundo do futebol.
Com mais ou menos historial, a violência ligada ao futebol é transversal aos principais clubes. E os exemplos partem dos agentes desportivos para as bancadas. Mesmo sem público, temos violência nos estádios. O FCP não tem o exclusivo. Nem dos actos, nem das palavras que os legitimam.
Vemos uma barreira de ódio que pretende a todo o custo enfiar adeptos fanatizados na bolha de influência das direcções dos clubes, dos seus canais de televisão, dos relatos e análises que eles próprios autorizam dos jogos. Isto vem acompanhado por um discurso tóxico, de uma agressividade inaudita, que transforma o que devia ser um prazer em mais uma fractura na sociedade portuguesa.
Não há, na estratégia de comunicação dos principais clubes lusos, nenhuma diferença em relação a tudo o que podemos ver em trumps e bolsonaros: o discurso de ódio como forma de mobilização de apoiantes, a tentativa de os isolar em bolhas de informação controladas exclusivamente pelos clube, um apelo difuso à violência e uma cultura de desprezo por todas as instituições que não dominem.
Mas a comunicação social também tem muita responsabilidade. Em nome das audiências, albergou por demasiado tempo painéis de debate que ajudaram a este caldo de cultura. Em vez de discutirem futebol, arregimentaram tribos de fanáticos que queriam ver sangue. Criando um padrão que tende a ser repetido noutros domínios da nossa vida colectiva. Não é por mero acaso que o pior da política veio desse mundo. Muitos desses programas já saíram do ar, mas os seus efeitos perduram.
Não é possível ser difusor do ódio (para não confundir com crítica) e ficar a salvo dele. O jornalista que foi agredido, com quem estou solidário, não é responsável por nada disto. Pelo contrário, é vítima. Mas as televisões foram cúmplices deste clima irrespirável.
Artigo da autoria de Daniel Oliveira
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