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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
O Governo acha que o futebol NÃO é uma actividade económica e que a Imprensa é SÓ uma actividade económica.
Têm os dois razão: o primeiro-ministro está certo quando diz que o futebol "não é uma prioridade" e o presidente da Liga também, quando exige a António Costa que trate o futebol do mesmo modo como trata o turismo, a indústria ou a distribuição. Ignorar os problemas do futebol, como ignorar os problemas - se me permitem - da Imprensa não é administrar o país; é administrar a imagem do Governo.
Faz parte do calculismo político perceber como é que os eleitores vão entender as medidas, mas é por de mais incompetência e cobardia (no mínimo) não as tomar apesar disso, se elas contribuírem para o bem comum. O futebol é prioridade? Claro que não, mas salvar bancos à custa da depauperação do sistema de saúde também é uma escolha (boa ou má) que põe centenas ou milhares de vidas em risco. Fora o show off mediático, o futebol é receita fiscal e postos de trabalho que ficam tão ou mais comprometidas do que quaisquer outras actividades económicas similares.
Sem o preconceito do político carreirista, o futebol só devia poder ser visto com esta crueza a partir de São Bento. A Imprensa é diferente. O fecho dos quiosques, que o Governo manda agora reabrir por decreto, foi um golpe duro que ameaça tirar do nosso controlo a gestão da trajectória de crise, numa permanente nuvem de asteróides. A ameaça não é para a Imprensa, nem para os jornalistas: é para os cidadãos e para a democracia, e já dura há uma década sem reacção dos governos nacional ou europeu. E tem graça. A mesma política que teima em não ver que o futebol é uma actividade económica, também se recusa a perceber que a Imprensa é muito mais importante do que isso. Mesmo quando um vírus lhe faz pousar essa realidade na única coisa que vê diante dos olhos: a ponta do nariz.
José Manuel Ribeiro, Director de O Jogo
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