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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
«Num jogo, em Alvalade, frente ao Vitória de Guimarães, o Sporting decidiu prestar homenagem a duas senhoras que faziam 50 anos de sócias. O capitão, que era eu, foi o escolhido para oferecer os respectivos emblemas comemorativos. Era o dia mais feliz daquelas duas senhoras !
Antes do jogo, elas deslocaram-se ao relvado, um bocadinho nervosas, e quando entreguei o emblema à primeira ela disse-me, "gostava que o Oceano marcasse um golo hoje para mo dedicar." Fui apanhado de desprevenido mas não quis desmanchar-lhe o prazer e respondi, "concerteza minha senhora, vou marcar esse golo e vou dedicá-lo à senhora porque hoje é um dia muito especial para si."
A outra senhora, que estava mesmo ao lado, disse logo, "então e para mim, não há nada ?". Respondi, "o mínimo que posso fazer é marcar outro golo e dedicá-lo também à senhora." Depois de ter falado com as senhoras comentei com os meus colegas , "agora é que me meti numa boa alhada, como é que vou marcar dois golos para os oferecer às senhoras ?". Eu que nem er de marcar golos ! O Iordanov disse logo, "é pá, tu nestas coisas acabas sempre por ter sorte e vais ver que consegues."
A verdade é que fiz o primeiro golo, dediquei-o a uma das senhoras e uns minutos depois acabei por marcar o segundo para oferecer à outra senhora. Mas esse jogo não começou bem para nós. Começámos a perder 1-0. De seguida marquei o golo do empate e, minutos mais tarde houve um penálti a nosso favor. Fui eleito para marcar. Quando me preparava para bater, o Neno chegou-se ao pé de mim e disse-me, "já sei para que lado vais marcar o penálti, é para o meu lado esquerdo." Nem o deixei acabar a frase, "ainda bem que sabes que é para o teu lado esquerdo porque eu não vou mudar de lado, é mesmo para aí que a bola vai." Marquei o penálti exactamente como sempre marcava, para o lado esquerdo do guarda-redes. O Neno não acreditou em mim e atirou-se para o lado direito. Ainda tenho a imagem gravada na memória: O Neno a rir-se na altura em que estava todo no ar enquanto a bola entrava na baliza. Mal caiu no chão, começou logo aos gritos, "sacana ! enganaste-me !.»
Do livro "Estórias d'Alvalade" de Luís Miguel Pereira
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