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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Como já é do conhecimento geral, Jorge Jesus concedeu uma extensa entrevista ao jornal Record - publicada este domingo. Seria necessário escrever um autêntico livro para transcrever e comentar todas as suas considerações. Não tenho essa disponibilidade e, para ser sincero, muito menos ainda a disposição. Sem ordem pré-ordenada nem prioridades definidas, escolhi meia dúzia de questões abordadas pelo treinador do Sporting que me parecem mais interessantes para debate entre leitores:
R - Já disse que o Naldo foi a opção depois do Douglas. Mas pode ser ele o patrão da defesa ?
JJ - O Naldo tem coisas boas, como o Paulo Oliveira. São jogadores posicionalmente muito rápidos.
*** Por outras palavras, não contratámos nem temos "patrão da defesa". Jorge Jesus, em um outro comentário, confessou que ficou "preocupado" com a não contratação de Douglas, aquele que estava destinado a ser o tal "patrão". Não sabemos os detalhes das negociações falhadas por Douglas, especialmente aspectos salariais, mas intriga não termos contratado quem mais precisamos - já desde a época passada - e poucos dias depois despendemos cerca de 4 milhões de euros em Bruno Paulista. Indiferente do que ele possa vir a ser - não refutamos essa hipótese - não satisfaz as necessidades da equipa no imediato.
R - Teo tem muito futebol, mas ainda não compreende bem a equipa...
JJ - Sim, sim. As exigências tácticas da posição dele no Sporting não são as mesmas do River Plate ou da selecção da Colômbia. Havia pouca responsabilidade táctica sem bola. Jogam muito em função do que é a ideia deles. Comigo isso não acontece. Primeiro tem de perceber a ideia global da equipa. Não sei qual é o nível dele. Ainda estou a conhecê-lo. Até acho que o Teo é mais um primeiro avançado que um segundo avançado, mas como tenho o Slimani, terá de ser segundo avançado.
*** A minha conclusão desta análise de Jorge Jesus, é que Gutiérrez ainda atravessa um período de adaptação ao futebol português/europeu e especialmente às ideias do treinador. Veremos quanto mais tempo vai ser necessário para vir a contribuir aquilo que o Sporting espera e necessita dele e quantos golos ficarão por marcar até se chegar a esse ponto. Não deixa de ser curioso que o próprio Jorge Jesus admite que ainda não sabe que nível de performance este jogador poderá vir a atingir e que, na realidade, ainda o está a conhecer. Por isto, torna-se evidente que não tem lido o Camarote Leonino com a devida atenção, porque temos aqui leitores que o poderiam informar de tudo e mais alguma coisa sobre o avançado colombiano.
R - O Tanaka fica no plantel porque o Sporting não conseguiu contratar outro avançado ?
JJ - O Tanaka é um bom número 9, um jogador de área. Tal como Slimani, tem crescido muito. Agora... tens o Slimani, tens Tanaka, tens Teo, tens Montero... e depois se quiseres ainda tens Bryan Ruiz. Não é fácil não é ?
*** Bem... nunca ninguém disse que iria ser "fácil" e foi precisamente por isso ele foi contratado. A consideração mais aparente é que se Tanaka é um "bom número 9" e a equipa tem evidenciado dificuldades em marcar golos, decerto que não é na bancada - por onde ele tem andado a maior parte do tempo - que poderá contribuir.
R - No futebol actual que Jesus tanto fala, o 6 não é agora o novo 10, um jogador que organiza o jogo ? E pegando nessa ideia, acha que Adrien desempenhou bem o papel de médio-defensivo ?
JJ - Agora a organização do jogo parte desses dois jogadores. Antigamente só partia do 10. Parte pelo 6, que actua em zona mais recuada, e parte pelo 10, em zonas mais subidas. Se só funcionar um, a equipa não resulta. Têm de funcionar os dois ao mesmo tempo. Adrien está a desempenhar muito bem. A primeira posição dele com o Paulo Bento foi a de médio-defensivo. Eu tentei que ele voltasse às origens. E a verdade é que o tem feito muito bem. Estou muito contente com o desempenho dele.
*** Interessante. Ajuda a compreender o que Jorge Jesus pretende do meio-campo leonino, mesmo sem William Carvalho, jogador que nas suas próprias palavras é "insubstituível", muito embora "tenha ainda muito para crescer".
R - Falemos dos novos jogadores. Foram todos escolhidos por si ? E pode explicar o que se passou com Michael Ciani ?
JJ - O Bryan Ruiz não tem nada a ver comigo. Quando cheguei o Sporting já estava a negociá-lo. Depois dele, foram todos escolhidos por mim. O Ciani foi uma decisão minha. Não era uma prioridade, nem era uma primeira ou segunda escolha, mas as minhas prioridades começaram a falhar. A primeira opção foi sempre o Douglas. Depois foi o Naldo. Mas chegou a uma altura em que tinha de ir para para a África do Sul e não podia levar apenas dois centrais. Tinha a ideia de contratar um central, ,mas a lesão do Ewerton fez-me pensar em ter mais um. Aliás, também pensava em contratar mais um médio e com a lesão do William decidi avançar para dois. Como é público, quem eu pretendia era o Danilo, que foi para o FC Porto. No plano inicial tinha a ideia de contratar 5 jogadores e com essas lesões vi que era curto e passei para 7.
*** Portanto, ficamos agora a saber que foi o presidente - e mais alguém, decerto - que decidiu contratar um médio antes de haver treinador para a equipa. Segundo, que foi o próprio Jorge Jesus que quase em desespero, muito pela não contratação de Douglas, optou por Michael Ciani, com o resultado que sabemos. O nome de Douglas surge várias vezes durante a entrevista - sublinhando quanto Jesus o queria - mas o treinador também afirmou que reconhece que financeiramente não foi possível. Acrescentou igualmente que Ricky van Wolfswinkel não era prioridade, apenas um negócio de oportunidade se financeiramente fosse bom para o Sporting.
R - As políticas desportivas de FC Porto e Benfica alteraram-se por ter ido para Sporting ?
JJ - Disso não tenho dúvidas. O orçamento do Benfica era para baixar 15 milhões; estavam para sair vários jogadores, não interessa dizer quais. A partir do momento em que fui para o Sporting, o Benfica alterou a posição financeira. E o FC Porto também ! Não era só o Benfica que me queria longe ! Antes, os 1.º e 2.º lugares estavam mais ou menos garantidos para estes clubes. Agora já não estão.
*** Mais um claro exemplo da "modéstia" de Jorge Jesus. Até é de admitir que terá havido algum ajustamento por parte dos dois rivais, agora afirmar que os dois primeiros lugares estavam mais ou menos garantidos, salvo a sua pessoa, é um autêntico exagero e injusto para quem estava ou para quem viesse treinar o Sporting.
Vamos ficar aqui por hoje. Como já referimos, uma entrevista muito extensa e quase impossível abordar em comentário de uma só vez. Havendo a oportunidade e o interesse, poderemos vir a publicar outras considerações de Jorge Jesus nos próximos tempos.
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