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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Por sugestão de um leitor, a quem agradecemos, desde já, publicamos um artigo da autoria de Nicolau Santos, director-adjunto do jornal Expresso, que aborda muito do que se debate neste momento e que, por mera coincidência, foi publicado antes do jogo com o Nacional. Dá para imaginar o que o jornalista diria mais sobre Jorge Jesus, face à exibição do Sporting na Madeira.
«Jorge Jesus é um técnico que tem provas dadas em vários clubes e que tem um curriculum onde cabem várias vitórias na Liga, na Taça de Portugal e na Taça da Liga, além de outros troféus. Jorge Jesus conseguiu no Benfica manter a equipa principal de futebol sempre competitiva apesar dos jogadores que iam sendo vendidos. Jorge Jesus chegou ao Sporting e transformou a mentalidade da equipa, que passou a acreditar que podia mesmo ganhar todos os jogos em que entrasse – de tal modo que, no ano passado, o Sporting só não foi campeão porque, na reta final, o Benfica fez um trajecto extraordinário, conseguindo manter-se até ao fim dois pontos à frente dos jogadores que representavam o clube fundado pelo neto do visconde de Alvalade.
Este ano, apesar das saídas de Slimani e de João Mário, o Sporting parecia ter à partida bem mais razões para acreditar no título devido às contratações, aparentemente cirúrgicas, que fez. Mas de repente as coisas estão a ficar tremidas. É claro que ainda falta muito campeonato mas a derrota nos últimos minutos com o Real Madrid, depois de uma exibição fabulosa, a derrota por 3-1 com o Rio Ave, o empate nos últimos minutos com o Guimarães depois do Sporting estar a ganhar por 3-0 (!) a um quarto de hora do fim, a derrota com o Borussia Dortmund por 1-2 com uma exibição indigente na primeira parte e o empate da semana passada em casa com o Tondela, conseguido com muito sangue, suor e lágrimas e imensa falta de talento no último suspiro da partida, fizeram regressar à nação sportinguista toda a insegurança e descrença que a tem acompanhado anos e anos a fio.
Jesus tem vindo a demonstrar que os grandes treinadores também têm as suas embirrações e manias. A de achar que o Jefferson não serve para defesa esquerdo é uma delas. Pode não servir mas é seguramente melhor que o Marvin Zeegelaar. Defende tão mal como ele mas centra bem melhor e remata livres de forma bem mais perigosa. O centro da defesa recomenda-se com Ruben Semedo e Coates, mas que mal fez o Paulo Oliveira para ser posto de lado? Por exemplo, nos jogos contra o Real Madrid e contra o Guimarães a sua entrada não teria sido muitíssimo indicada? Mas não, Jesus não lhe dá oportunidade.
Em contrapartida, no meio-campo, temos agora um rapaz que nos tramou uma vez quando jogava no Benfica, que já provou que tem muito bons pés, mas que em matéria de entrega ao jogo e de entrosamento com a equipa, quando se trata de atacar em conjunto ou defender quando é de defender, até agora só conseguiu provar que não tem lugar no onze. A sua exibição com o Borussia Dortmund foi verdadeiramente lamentável: até ele sair, o Sporting jogou sempre com menos um. E qualquer treinador de bancada percebe que, neste momento, Bruno César é um jogador muito mais importante para a equipa do que o tal de Markovic. Tem sido um Lazar dos diabos sempre que ele está em campo. Precisa de tempo, diz Jesus. Ah, se precisa, então treine mais e jogue na equipa B uns tempos – ou entra quando estivermos a ganhar por 7-0. Agora para andar no campo a jogar futebol de praia, não, muito obrigado.
E o Elias, senhores, o Elias?! Contra o Madrid entrou e fez o livre que deu o golo do Ronaldo. Contra o Dortmund passou o tempo a ver jogar o Julian Weigl. E com toda a razão, diga-se! O miúdo jogava espantosamente bem e Elias nem se aproximava só para tentar perceber como o futebol se joga com a cabeça e não com os pés. E foi assim que até marcou um golo, sem o Elias se chegar.
Quanto ao Alan Ruiz, contratado por causa do seu pé esquerdo, alguém se esqueceu de dizer que ele funciona a gasóleo e não a gasolina. E devagar, devagarinho não se vai longe no futebol europeu, mesmo que seja em Portugal. Ainda por cima já tínhamos outro a gasóleo: o Bryan Ruiz, que tem um pés magníficos mas falha muitos golos e defende muito pouco. Não há por lá um tal Bruno Paulista que Jesus dizia que ia explodir este ano e que era extraordinário? No jogo contra o FC Porto, pelo menos quando entrou mostrou ser bastante viril nas entradas (um bocadinho de mais, talvez…), ao contrário dos macios Markovic e Elias. Por onde andará Bruno Paulista?
Tínhamos então muitas soluções para o meio-campo. Mas o Adrien lesionou-se e o que se viu é que o rei vai nú, isto é, viu-se que a equipa não tem nenhum jogador com as características do capitão do Sporting. E desde que ele falhou a equipa tem andado com o coração nas mãos. Ora não é aceitável esta tremedeira só porque o Adrien se lesionou. O Benfica tem tido uma devastadora onda de lesões e não só Rui Vitória tem encontrado soluções, como a equipa continua a ganhar interna e externamente e vai destacada na liderança do campeonato. Jesus não consegue fazer o mesmo? Não. Porque não tem matéria-prima ou porque, tendo-a, não aposta nela mas noutra? Parece-me que a segunda razão é a verdadeira. Componha ele o meio-campo com William e Bruno César até Adrien regressar e metade dos problemas desaparecem.
No ataque, Gelson faz miséria mas não pode fazer tudo. E Bas Dost não pode falhar os golos que falhou contra o Borussia (daria o 2-2) e contra o Tondela. É um jogador muito diferente de Slimani. Não marca os defesas e está na área feito um pinheiro. Por isso, precisa ter alguém que desequilibre ao seu lado. Gelson é um. Campbell pode ser o outro. O Markovic é que não. O Castaignos também não. O André não há meio de mostrar o que vale. E eis como vendemos dois, compramos seis jogadores, e ficamos muito pior do que estávamos. Como é possível?
Esta noite (Nacional-Sporting, 21h00) é para ganhar. Só pode. O Sporting deve jogar com Patrício; João Pereira, Coates, Semedo e Jefferson; William, Bruno César e Bryan Ruiz; Campbell, Bas Dost e Gelson. Assim, até os comemos! Carrega, Sporting!».
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