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Domingo logo a seguir ao jogo em Setúbal e esta segunda-feira durante quase todo o dia, debatemos aqui no Camarote Leonino se o presidente do Sporting deveria ou não falar sobre o que só pode passar por ser mais uma grosseira traição à verdade desportiva no futebol português. Mesmo reconhecendo que mais uma audiência pública deste género pouco ou nada resolve, por si, acho que Bruno de Carvalho, desta vez, não podia permanecer em silêncio.

 

Vários assuntos foram abordados na conferência de imprensa que decorreu no Auditório Artur Agostinho, em Alvalade, muito, quase tudo, do que era lógico e expectável ser referido por quem lidera uma instituição com a história e grandiosidade do Sporting Clube de Portugal e que se sente prejudicado por um "sistema" que já há uns anos a esta parte visa colocar o poder do futebol português nas mãos do Sport Lisboa e Benfica e do Futebol Clube do Porto. Podemos de facto discutir timing e circunstâncias mas, em última análise, são estes dois clubes que mais beneficiam com os prejuízos do Sporting, tudo o resto são cenários laterais e de menor consequência.

 

O "sistema" no futebol português não é palpável, mas todos nós acreditamos que ele existe. Mais do que uma simples expressão para ser usada à conveniência como mera desculpa pelos insucessos do momento, é uma realidade na forma de uma influência obscura que visa manietar resultados por aqueles que mais meios dispoêm e que maiores interesses têm em causa. Não é surpresa alguma, hoje e sempre, verificar que a instrumentalização do jogo, o controlo do aparelho da arbitragem, a contabilidade criativa, os sacos azuis, os negócios pouco transparentes na negociação de jogadores com clubes e fundos de investimento, as contrapartidas aos intermediários "invisíveis" e afins, ao fim e ao cabo, não são mais, no seu conjunto, do que um espelho da sociedade em que estamos integrados, e que exige ser desmontado de forma cabal, doa a quem doer. A grande dúvida recai sobre o método mais realista e adequado para clarear os contornos deste "sistema" de forma a poder demoli-lo de uma vez por todas. Aqui, reside o desde sempre dilema do Sporting e de todos os verdadeiros desportistas, indiferente das cores clubistas de maior simpatia.

 

Não há muito tempo, Dias da Cunha denunciou o que ele entendia ser o rosto do "sistema" mas, em Portugal, a monstruosidade que se foi construindo ao longo dos anos e que continua ainda hoje a fazer sentir a sua insólita presença, não se identifica somente pelos rostos então denunciados. Os recorrentes casos de corrupção e promiscuidade lançam fortes suspeitas - se não evidências - que o leque de personagens, passiva e activamente envolvidos nos meandros do pontapé na bola, estendem muito além do mero foro desportivo, em um sortido de expedientes obscuros que despidos à luz do dia ameaçariam a própria governação do País. 

 

Como já referi no primeiro parágrafo deste texto, o presidente do Sporting abordou vários assuntos na conferência de imprensa. O que considero ser de maior importância e relevância, no que diz respeito à raiz do problema, está sublinhado nesta sua declaração:

 

«É preciso um milagre no futebol português, logo a ligação a Fátima. Cada clube tem os seus objectivos. O campeonato português não é tão competitivo como podia ser e temos três grupos: os que têm a manutenção como objectivo, um segundo grupo que tem a Liga Europa como objectivo, e três cujo histórico os levará sempre a pensar que podem chegar ao título (palavras dele, não minhas). São objectivos distintos, cada clube tent proteger-se perante a realidade e, muitas vezes, há dificuldade em trabalhar em sintonia. Alguns clubes estão preocupados com a situação do presidente da Liga e tentam atrair outros clubes para esse assunto.

Eu pergunto: em termos do que é a verdade desportiva, o centro de decisões no futebol, está na Liga ? A Comissão de Arbitragem, o Conselho de Disciplina e Justiça estão na Liga ? Neste momento em que podemos mostrar às pessoas o que são os verdadeiros problemas, a Liga é o problema mais importante ? Desde o início que o Sporting entende claramente o que se passa e o que deviam ser as prioridades. A nossa preocupação é na verdade desportiva e há três órgãos que pertencem à Federação e não à Liga. Isso é que nos preocupa. Já lidámos com o Conselho de Disciplina e com a vergonha do seu presidente mas que tudo passa em claro. E agora será o Conselho de Justiça, veremos o que sairá. Estamos muito tocados e sabemos onde estão os problemas.

Estamos disponíveis para todos os clubes que tenham a coragem de fazer o que o Sporting fez: dizer claramente no que é que foi beneficiado e prejudicado de forma grosseira, e arranjar uma solução conjunta. Nõ é só refilar quando não estamos no lugar que queremos. É preciso ter a coragem de defender  verdade desportiva. Serei o primeiro  denunciar o que foram erros a favor e contra o Sporting. Gostava de ver outros a fazer o mesmo, como não vejo cho que o caminho a trilhar é longo mas há de ser trilhado.»

 

Muito embora seja possível discordar com o presidente em uma ou outra questão pontual, aprovo a generalidade destas suas considerações, no que diz respeito à essência do problema que afecta o futebol português, ou pelo menos a uma fracção dessa essência. Confesso, no entanto, menor apreço por algumas das suas outras reflexões. Se Bruno de Carvalho ainda não reconhece a disposição - até creio que reconhecerá - mais do que coragem, é necessário vontade, integridade e clarividência, e são precisamente estas qualidades morais e disposição de espírito que existem em escassa dose nos clubes de futebol profissional portugueses e respectivos dirigentes, já para não evocar os elementos que integram os órgãos que superintendem a modalidade que, na sua vasta maioria, não só não fazem parte da solução para o problema, são eles próprios, na realidade, uma boa parte do problema.

 

publicado às 05:24

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44 comentários

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De Balajic a 11.03.2014 às 15:51

Nem mais Rui!

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