De Marcos Cruz a 11.12.2024 às 18:28
Rui, como não sabia onde encaixar isto, deixo-lhe aqui uma breve reflexão sobre a famigerada crise no nosso clube. Fica ao seu dispor. SL
Entre as muitas assunções lesa-futebol que têm feito escola, uma em particular deixa-me perplexo: a de que, no futebol, não há tempo. É um efeito da cultura do imediatismo e de uma desejada irracionalização das massas, porque a raiva vende mais do que a paciência e, no negócio do futebol, o futebol é a equipa pequena, o negócio é o “dream team” – lutam um contra o outro dentro e fora do campo, apoiados por bancos que em comum só têm o nome.
Dizer que não há tempo no futebol é a mesma coisa que dizer que não há espaço. É negar a essência do futebol, é arrancá-lo à sua raiz metafísica, é transportá-lo de um relvado para um caixão. Provavelmente, um dia teremos equipas de ciborgues treinadas por algoritmos. Nesse dia, quem não terá tempo para o futebol sou eu.
O João Pereira é um ser humano. Até parece estúpido lembrar isto, mas torna-se necessário perante a enxurrada de desumanidade que lhe está a cair em cima. Ainda ontem, num dos poucos programas televisivos equilibrados de debate sobre futebol, todos os “tertulianos” se entretinham a contribuir com linhas próprias para a escrita do obituário de João Pereira enquanto treinador do Sporting.
Caso não fosse humano, João Pereira não entenderia por que os agora seus jogadores se mostram inseguros onde antes patenteavam autoridade. É que a razão, muito mais do que física, técnica ou táctica, até porque todo um sistema de comportamentos mecanizados se mantém, deve ser encontrada no foro psíquico. Se a dúvida, como um vírus, invadiu transversalmente o clube desde que Amorim sobrepôs, cheio de pressa (lá esta o fantasma do tempo), o seu interesse pessoal ao interesse colectivo, João Pereira não lhe ia ser imune, ainda para mais estando a dar os primeiros passos oficiais na profissão.
Do meu ponto de vista, ninguém será parte da solução se não se assumir primeiro como parte do problema. Todos juntos nisto: presidente, director desportivo, equipa técnica, jogadores, sócios e adeptos. Obviamente, não incluo a comunicação social, porque ela não está disposta a ser parte da solução – nem tem de estar, embora a factura do seu criticismo irresponsável seja paga pelo futebol português como um todo. E o problema aqui parece-me tanto mais bicudo quanto já foi a solução: a aposta de todas as fichas num treinador a quem se deu salvo-conduto para criar filosofia, implementar sistema, fixar modelo, escolher jogadores e ser uma espécie de guru comunicacional do clube, num processo de tal forma pessoal e intransmissível que, já se adivinhava, iria causar um cataclismo quando fosse interrompido.
Certamente, Frederico Varandas não queria atirar João Pereira para o meio da tempestade, mas teve de o fazer, uma vez que era ele quem vinha a ser trabalhado como futuro sucessor de Amorim. Lá está, houvesse tempo, tivesse ele sido respeitado pelo técnico anterior em função dos compromissos assumidos, e talvez a entrada de João Pereira na equipa fosse bem mais auspiciosa.
Face a isto, e a muitas outras coisas que poderia mencionar, como o facto de o plantel prender o actual treinador ao 3x4x3 de Amorim ou de ser sempre extremamente difícil substituir uma liderança carismática (veja-se Bruno Lage no Botafogo pós-Luís Castro), a última pessoa que julgo merecedora de crítica é precisamente João Pereira, o bombeiro que adentrou as chamas e, ainda sem água a correr feroz pela mangueira, se predispôs a apagar o fogo intenso que o seu amigo Amorim decidiu atear. Em vez de lhe agradecermos e nos juntarmos a ele, ajudando-o por todos os meios a reverter a situação, atiramos-lhe gasolina.
Impressionado com as tochas e os petardos caídos no relvado do Brugge, Harder fez a pergunta a que os sportinguistas deviam responder colectivamente: "O que é isto?".
De Tiago a 11.12.2024 às 19:36
Eu só quero relembrar duas coisas, andar a trocar novamente de treinador, a ultima vez que isso aconteceu foram quantos mesmo?
O Lage foi para o lugar do Luis Castro a meio da epoca no Botafogo, que aconteceu a seguir, quantos treinadores tiveram?
Não há milagres, a herança é extremamente pesada.