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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
“Ninguém acredita na Justiça” – quem publicamente o afirma não é um qualquer cidadão comum português, mas "apenas" o próprio Presidente do Supremo Tribunal de Justiça (em entrevista ao “Expresso” publicada em 6 de Março, último).
Um reconhecimento deveras lúcido, realista e corajoso que reforça, de resto, a convicção geralmente enraizada de ser a Justiça precisamente a causa maior do grande e persistente atraso de Portugal face aos países democráticos evoluídos, com consequências funestas para sectores fundamentais da vida dos portugueses. Um verdadeiro e penoso entrave ao nosso progresso colectivo. Uma maldição que se arrasta desde há séculos e parece jamais extinguir-se.
Como um fenómeno galvanizador de paixões extremadas e descontroladas, o futebol tem vindo gradualmente a converter-se num dos quadrantes popularmente mais visíveis e preponderantes da impreparação, da incompetência e da ineficácia da justiça portuguesa – um terreno minado por sucessivas revelações e suspeitas de corrupção activa e passiva de juízes e magistrados, fundamentadas em abusos de influência, trocas de favores, conluios vários entre colegas de profissão, interesses externos e favoritismos clubistas, entre outros factores responsáveis pelo descrédito em que se tem afundado.
O fulminante desencadeamento - em 2004 - do célebre e escandaloso “Apito Dourado” suscitou muito fundas expectativas nos apaixonados exigentes do futebol limpo, honesto e transparente. A sempre hesitante Justiça portuguesa decidira, finalmente, penetrar em força num mundo que se tornara extensa e opacamente mafioso, a fim de repor a ordem legal e restabelecer a verdade desportiva.
Mas a ilusão não tardaria muito a transformar-se em revoltante desilusão. Apesar das inúmeras provas reunidas dos delitos, inegavelmente confirmadas pelas suas próprias declarações pessoais (que, aliás, ainda hoje se podem escutar) os protagonistas envolvidos na gravíssima trama acabariam, habilidosamente, por escapar às consequências dos seus crimes – desfazendo-se, assim, em pó um processo que custou aos contribuintes muitas centenas de milhares de euros…
Decorridos, porém, mais de dezasseis anos, a Justiça portuguesa continua, como se sabe, a ser, lamentavelmente, alvo de desconfiança e de suspeita relativamente às suas posições e intervenções nos sucessivos casos que envolvem ilicitamente o nosso maltratado futebol, os seus clubes, agentes e figurantes. Não raramente se lhe apontando ilações paradoxais, interpretações contraditórias, conclusões incongruentes ou decisões surpreendentemente incompreensíveis e inacreditáveis.
O seu fracasso ou incapacidade tem vindo a repetir-se nos variados casos em que lhe coube a responsabilidade de investigar e decidir. Entre eles, os dos E-mails, dos Vouchers, de Rui Pinto ou do E-Toupeira.
E temos presentemente, ainda, o julgamento da invasão terrorista da Academia Sporting, seus executantes e responsáveis – o qual, a deduzir pela sua evolução, se supõe igualmente destinado a engrossar o rol da controversa e da polémica. Na verdade, ao que consta, as mais recentes alterações introduzidas no processo de acusação do MP, tão enigmáticas como perturbadoras, além de muito deslocadas, permitem augurar, sem surpresa, um novo desfecho judicial mal-concebido e mal- sucedido.
Texto da autoria de Leão da Guia
Nota: Pintura a óleo intitulada "Justiça" de Svetlana Vinokurtsev (2005).
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