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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Não sei como é que vão terminar os vários processos judiciais em que o Benfica está envolvido. Não quero antecipar cenários e muito menos substituir-me a quem tem de valorar e eventualmente punir as condutas que sejam ilícitas e os seus agentes.
Da mesma forma como respeito a competência dos tribunais, não posso ignorar aquilo que os media têm divulgado, nomeadamente um conjunto de comunicações electrónicas não desmentidas, que, a serem verdadeiras – como parece que serão –, revelam um confessado propósito de controlar agentes desportivos, de obter informação a que outros não têm acesso, a antecipar comportamentos.
Para além de alguns episódios, que passarão a figurar no anedotário nacional, como seja a oportuna amnésia do presidente – visivelmente restabelecido – ou o fervor religioso do director jurídico, vislumbra-se desde já um aspecto que não pode ser escamoteado e que tem a ver com a vertente disciplinar de todo este acervo de condutas.
Patentemente este jogo de bastidores, prosseguido por uma complexa rede que o Benfica alimentava e protegia, e da qual objectivamente beneficiava – com conhecimento ou não do presidente –, visava obter para o clube inúmeras vantagens ocultas, cujo impacto a nível desportivo deve, por obrigação, ser investigado, em paralelo com os inquéritos criminais.
Como se sabe, o poder disciplinar no futebol compete à Federação Portuguesa de Futebol, que, há tempos, anunciou a abertura de inquérito e por aí se ficou; desde então, têm guardado de Conrart o prudente silêncio.
Eu bem sei que a Federação está escaldada com os desfechos disciplinares mais relevantes, como sejam a anulação judicial das sanções do Apito Dourado, ou a repescagem do Gil Vicente, mas, tout de même, há limites.
Estas trapalhadas do Benfica contêm indícios que apontam para o que pode vir a ser o maior escândalo desportivo de sempre em Portugal, e o mínimo que se espera da entidade federativa é que seja deveras diligente e proactiva no âmbito da tutela, que lhe cabe. As circunstâncias assim o parecem exigir.
A justiça desportiva não tem de andar a reboque, nem ficar à espera da justiça criminal, porque diferentes, em larga parte, são os respectivos pressupostos e objectivos.
A Federação não pode mais pretender que nada se passa.
Carlos Barbosa da Cruz, jornal Record
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