Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Jan Steen, O curandeiro, século XVII
Bruno de Carvalho venceu as eleições presidenciais do Sporting em 2013 com um programa que prometia “uma mudança positiva, construtiva e de verdade”. Sobre a constituição da equipa principal de futebol defendia que “a estabilidade deve ser respeitada” e propunha que “com a reactivação da equipa B, o plantel deverá ser menos numeroso - 20 jogadores. Um plantel mais reduzido é mais barato, mais fácil de gerir e com uma competitividade interna acrescida”. Prometeu, ainda, no programa eleitoral: “Deverá ser a partir do plantel actual, com alguns excelentes jogadores e alguns com previsível futuro muito risonho, que se deve construir o próximo plantel.”
Decorreram quase três anos e muita água correu por baixo das pontes. Se analisarmos com minúcia as contratações da era Bruno de Carvalho chegar-se-á a números surpreendentes: desde Março de 2013 contrataram-se 87 jogadores (incluindo S19), dos quais 30 já saíram do Clube e 9 foram emprestados. Durante este período de tempo realizaram-se 30 renovações contratuais e um total de 63 jogadores foram transferidos ou dispensados.
A distância que vai do que Bruno de Carvalho propagandeou à realidade que construiu não o demove de permanentemente alardear méritos próprios, imaginando-se o Stromp do século XXI. Nisso, comporta-se como um curandeiro que mesmo quando é apanhado nas suas contradições convence-se que tudo, somado ou subtraído, resolve-se com gritaria e chutos na bola para a bancada. O temperamento primário e a pulsão instintiva do presidente do Sporting preocupam cada vez mais os adeptos leoninos.
Os casos Carrillo e Montero, cada um à sua maneira, são elucidativos da realidade gerada por uma "hiperliderança" especializada na "microgerência” personificada em Bruno de Carvalho. Carrillo mostrou que se um jogador tiver as costas quentes deixa o “Bruno” pendurado a vociferar ameaças de processos judiciais. Montero revelou, se isso fosse necessário, que o Sporting continua a vender passes de atletas para acorrer a necessidades financeiras.
A filosofia desportiva proposta por Bruno de Carvalho começou com a afirmação de que bastariam três a cinco contratações de jogadores experientes, visando optimizar a integração dos atletas provenientes da Formação. Os sportinguistas, em geral, até aplaudiram, pois agora é que viriam as “contratações cirúrgicas”. Depois, com Jorge Jesus, alterou-se o paradigma competitivo para “jogadores já feitos”, revelando que, afinal, não havia qualquer projecto desportivo consolidado. Cada um de nós conhece o significado das palavras e, por isso, consegue prever o que virá a seguir. E pode-se recear o pior quando é o próprio presidente do Clube que questiona “o que seria do Sporting sem mim?”.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.