O curandeiro

Leão Zargo, em 05.02.16

Jan Steen, O curandeiro, século XVII

Bruno de Carvalho venceu as eleições presidenciais do Sporting em 2013 com um programa que prometia “uma mudança positiva, construtiva e de verdade”. Sobre a constituição da equipa principal de futebol defendia que “a estabilidade deve ser respeitada” e propunha que “com a reactivação da equipa B, o plantel deverá ser menos numeroso - 20 jogadores. Um plantel mais reduzido é mais barato, mais fácil de gerir e com uma competitividade interna acrescida”. Prometeu, ainda, no programa eleitoral: “Deverá ser a partir do plantel actual, com alguns excelentes jogadores e alguns com previsível futuro muito risonho, que se deve construir o próximo plantel.”

Decorreram quase três anos e muita água correu por baixo das pontes. Se analisarmos com minúcia as contratações da era Bruno de Carvalho chegar-se-á a números surpreendentes: desde Março de 2013 contrataram-se 87 jogadores (incluindo S19), dos quais 30 já saíram do Clube e 9 foram emprestados. Durante este período de tempo realizaram-se 30 renovações contratuais e um total de 63 jogadores foram transferidos ou dispensados.

A distância que vai do que Bruno de Carvalho propagandeou à realidade que construiu não o demove de permanentemente alardear méritos próprios, imaginando-se o Stromp do século XXI. Nisso, comporta-se como um curandeiro que mesmo quando é apanhado nas suas contradições convence-se que tudo, somado ou subtraído, resolve-se com gritaria e chutos na bola para a bancada. O temperamento primário e a pulsão instintiva do presidente do Sporting preocupam cada vez mais os adeptos leoninos.

Os casos Carrillo e Montero, cada um à sua maneira, são elucidativos da realidade gerada por uma "hiperliderança" especializada na "microgerência” personificada em Bruno de Carvalho. Carrillo mostrou que se um jogador tiver as costas quentes deixa o “Bruno” pendurado a vociferar ameaças de processos judiciais. Montero revelou, se isso fosse necessário, que o Sporting continua a vender passes de atletas para acorrer a necessidades financeiras.

A filosofia desportiva proposta por Bruno de Carvalho começou com a afirmação de que bastariam três a cinco contratações de jogadores experientes, visando optimizar a integração dos atletas provenientes da Formação. Os sportinguistas, em geral, até aplaudiram, pois agora é que viriam as “contratações cirúrgicas”. Depois, com Jorge Jesus, alterou-se o paradigma competitivo para “jogadores já feitos”, revelando que, afinal, não havia qualquer projecto desportivo consolidado. Cada um de nós conhece o significado das palavras e, por isso, consegue prever o que virá a seguir. E pode-se recear o pior quando é o próprio presidente do Clube que questiona “o que seria do Sporting sem mim?”.

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publicado às 08:44

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24 comentários

De Leão Zargo a 05.02.2016 às 17:52

Caro Schmeichel
A contagem é minuciosa e abrange todos os atletas (incluindo S19) contratados na presidência de Bruno de Carvalho. É um número surpreendente, como também surpreende o valor total envolvido. Neste aspecto, como se calcula, é difícil fazer as contas.
Seria interessante avaliar os efeitos que todas estas contratações tiveram sobre os atletas da Formação que ficaram impedidos de "aparecer" porque os caminhos estavam tapados. O pior é a ausência de planeamento estratégico, ao contrário de do que se propunha no programa eleitoral.

Refiro que Montero foi vendido para acorrer a necessidades financeiras de curto prazo porque há anos atrás o BdC insurgia-se contra esse tipo de negócios. Dizia que nesses casos conseguia-se vender sempre abaixo do preço.
BdC nunca hesitou vender em determinados contextos negociais: Bruma, Illori, Dier, Cédric… E todos aqueles que vieram da era de presidentes anteriores e que foram tratados como lixo. Incapacidade negocial. Se tivesse havido uma boa proposta por Patrício ou William já não estariam cá!

É um erro muito grande considerar que o Sporting está destinado a dois tipos de presidentes: Godinho Lopes ou Bruno de Carvalho.

Obviamente que BdC não faz apenas coisas más, seria irresponsável se o afirmasse. No entanto, vai uma grande distância entre a propaganda e a realidade.

De Rui Gomes a 05.02.2016 às 18:24

Excelente resposta caro Leão Zargo, mas não pense, nem por um minuto, que satisfaz o estado de espírito e/ou a visão do nosso leitor Schmeichel.

De Schmeichel a 05.02.2016 às 19:52

Leão Zargo,
Para ser considerado um número surpreendente, então teria de ser apresentado o custo total das mesmas, e compará-los com outros anos e outros clubes. Volto a repetir, meter no mesmo saco, jogadores como o Gazela, só serve para confundir... ainda ontem soube-se que um tal de Vera (jogador que jogou em 2 anos apenas 3 jogos pela equipa B) custou 3M€. Sabe quantos Gazelas dava para comprar? 120... Bem acima dos 89 jogadores que você indica.

Montero não era titular, mas o Slimani é.... e por acaso não recebemos uma proposta de 20M por ele? e BdC não a recusou? logo, existe margem a curto prazo...

É verdade que existe um mundo para além de BdC e de GL... mas como se analisa o trabalho de alguém? se compararmos com o passado é incorrecto? ou com os rivais? é que normalmente os críticos de BdC nunca comparam os dados que acusam BdC com nada... e isso não me parece justo!

De Leão Zargo a 05.02.2016 às 21:08

Schmeichel
Parece-me que, por si só, o número de jogadores contratados na era BdC é manifestamente excessivo e revelador da ausência de planeamento estratégico. Ora, não imagino como é que um Clube como o Sporting pode ter sucesso sem esse tipo de planeamento.

Não me parece essencial introduzir nesta análise o Reyes ou o Vera, o Ola John ou o Taarabat. Cada caso é um caso, mas em todas as circunstâncias temos de exercer o espírito crítico. Basta-me o nosso Clube para me preocupar e concentrar o meu tempo.
Obviamente que quando analisamos o presente temos o em consideração o passado e pretendemos perspectivar o futuro. Sempre foi assim. O problema é quando a sistemática invocação do passado destina-se a impedir a análise racional e pragmática do presente.

Preocupa-me muito que desde que Jesualdo Ferreira saiu não haja no Sporting uma política pensada e orientada relativamente à equipa B. Desde há três anos que na B tudo é conjuntural e dependendo de estímulos imediatos. Não pode ser assim, pois o planeamento estratégico é essencial num grande Clube.

Quando é que o Sporting recebeu uma proposta de 20M€ por Slimani? Confesso que não me apercebi.

De Vozes a 06.02.2016 às 11:01

Excelente resposta, caro Schmeichel, mas nao pense, nem por um minuto, que satisfaz o estado de espírito e/ou a visão dos autores Zargo ou Rui Gomes.

De Rui Gomes a 06.02.2016 às 11:11

Pode ter muitas "vozes", mas a imaginação é nula, já para não falar de raciocínio !

Camarote Leonino

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