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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
O futebol emergiu em Portugal na segunda metade da década de 1940 como um extraordinário movimento de cultura de massas, nomeadamente nos principais centros urbanos. O poder da cultura popular, o ímpeto da ligação emocional e a força da estética desportiva tornaram-no num fenómeno surpreendente para muitos. Surpreendente porque, naquele tempo ainda determinado pela 2ª Guerra Mundial, andavam quase todos demasiado ocupados com os aspectos sérios e racionais da vida, considerando-se socialmente secundários os que decorriam da emoção e do divertimento.
O Sporting é, desde a sua origem, um Clube com um fortíssimo sentido de “lugar” e de “identidade”. Talvez por isso, verifica-se que numa época de profunda transformação do futebol competitivo em que depois da introdução do semi-profissionalismo já se começava a falar do inevitável profissionalismo, a Direcção decidiu elaborar o “Estatuto do Jogador” assumindo a necessidade de definir e estabelecer a ética do cidadão e do desportista inerente à instituição leonina. O Estatuto foi publicado no jornal Sporting, em Setembro de 1950.
“Homem e artista, jogador e atleta, homem acima de tudo, o jogador de futebol do Sporting, por este diploma que é o seu estatuto, sabe quais são os seus direitos e deveres e os benefícios que dele colhe, sendo honesto e desportista. E ser desportista é ser camarada, leal e generoso, lutando até à exaustão pela camisola que enverga, correspondendo com amor e desvanecimento à prova de confiança de quem lhe deu o lugar em qualquer das turmas representativas do seu Clube. Que assim seja sempre, para grandeza e prestígio do Sporting Clube de Portugal.”
O Estatuto constitui um documento de excepcional valor sociológico na medida em permite reflectir sobre a filosofia do jogador de futebol do Sporting e a linguagem específica utilizada nessa abordagem conceptual. Por outro lado, revela como a lealdade e a identificação com os valores do Clube implicavam um fortíssimo sentimento de pertença, de solidariedade e de sociabilidade. É, ainda, interessante constatar o esbatimento de dicotomias então socialmente ainda dominantes: espírito e corpo, seriedade e prazer.
Nota: Imagem do primeiro número do Boletim do Sporting Clube de Portugal, o jornal de clube desportivo mais antigo do mundo.
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