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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Jorge Jesus não tinha razão quando disse que o fairplay era uma treta. Teria razão para dizer agora que o fairplay financeiro é uma treta. Ainda não foi nesta jornada inaugural da Champions que se fez a prova plena do desequilíbrio introduzido no futebol pelos clubes financiados pelos petrodólares do Qatar e de outros emirados árabes onde os direitos humanos são a mais pura das tretas.
Desde logo porque o trio milionário feito por Mbappé, Messi e Neymar foi incapaz de cilindrar o muito modesto Brugge. Ou porque o também milionário Atlético Madrid não conseguiu ganhar a um bravíssimo FCPorto, onde continua a abismar o talento mas, sobretudo, a garra, entrega e determinação de todos, de jogadores a treinador. Mas que vamos a caminho de uma espécie de Liga dos Milionários fáctica, reduzida a meia dúzia de clubes, restam poucas dúvidas.
Mesmo por cá, o grande desequilíbrio do dinheiro vai deixando os seus traços. O Sporting claudicou perante o Ajax e poderia ter evitado a goleada se tivesse armado o autocarro em frente à baliza. Optou pela aventura romântica de jogar o jogo-pelo-jogo até ao fim, de querer contrariar a dinâmica dos acontecimentos pela generosidade do esforço físico e pela superação da vontade. Falhou rotundamente e deve retirar as devidas ilacções.
Sobretudo, duas: como gerir um plantel inegavelmente muito curto de opções, como é bem evidenciado pela fatídica conjugação de lesões e castigos; como ultrapassar a dura realidade de ter perdido um jogador, João Mário, que custaria ao clube mais do que todo o meio-campo do Sporting. E se a primeira questão já abre a porta grande para o problema financeiro, a segunda demonstra claramente que, também por cá, fairplay-financeiro é uma boa treta.
Sobra, por fim, uma terceira questão que emerge das outras duas. Até que ponto vai o Sporting aguentar a pressão, no campeonato nacional, de ter um plantel pequeno, limitado e barato, assente em grande parte na formação, que funcionou o ano passado num quadro competitivo diverso e numa ruptura com o modelo de negócio clássico, marcado pelo irrealismo financeiro?! Principalmente, perante adversários que gastaram muito mais ou que aguentam plantéis mais caros mas muito mais diversificados nas soluções. É que se o fairplay financeiro ainda não é uma treta, cá pelo burgo, anda lá muito perto.
Artigo da autoria de Eduardo Dâmaso, em Record
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