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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Tenho usado com frequência a seguinte citação da contracapa da obra "Ensaio sobre a cegueira", de Saramago: "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara". Esta simples frase do "Livro dos Conselhos", contém uma profunda sabedoria a qual, de certo modo, sempre senti que guiara as minhas acções e reacções ao longo da vida, face aos acontecimentos quer pessoais, profissionais e desportivos em que me envolvia. Olhar, ver e reparar até era um gesto instintivo do meu trabalho como topógrafo o que aliado ao meu espírito inquisitivo e eventuais conclusões, transformaram-me num louco aqui dentro do meu cantinho caseiro, que acha que os malucos são os que estão lá fora.
É um facto que 40/50 mil pessoas, dezenas de técnicos, um batalhão de jornalistas, 40 atletas no banco, 2 treinadores atentos e milhões de telespectadores olham e vêem um rectângulo onde estão dispostos 10 jogadores de cada lado, excluindo os guarda-redes, em fórmulas posicionais exotéricas de 4x4x2, 4x3x3, 4x2x4 com um qualquer losango lá metido, prontos a digladiarem-se por uns míseros 2 golos, os quais, à "seculum seculorum", tem sido a média mundial dos jogos de futebol. Isto não obstante, os avanços das "tácticas" e dos "colectivos", analisados e dissecados "ad nauseam" pelos média que até parecem querer libertar-nos dos problemas mais importantes que nos rodeiam.
Mas este meu desabafo não é direccionado às tácticas do futebol.No planeta devem haver biliões de "experts" mais habilitados e isso é gente demais para se enfrentar. Seguramente que, num piscar de olhos, me vestiriam um colete de forças.
A verdade é que eu sou o louco atrás das grades e como tal permito-me lançar um alerta à plebe, para algo que todos olham, vêem e não reparam. Um pequeno pormenor dessa religião "futeboleira" que sempre me fascinou. E é num rasgo de sanidade mental que grito nunca ter visto no campo a tal inferioridade numérica que serve de lamento aos treinadores quando as coisas não correram de feição. Ainda hoje, 23 de Agosto, ouvi num vídeo o nosso estimado JJ a analisar o empate em casa, de uma forma realista mas que, como todos os outros, não resistiu introduzir a certa altura a a sua queixume: - "... com menos um jogador !"...
Ora, a minha afirmação que no futebol não existe inferioridade numérica (refiro-me entre equipas mais ou menos equlibradas), é facilmente comprovada, bastando reparar no que se passa dentro do campo. Exemplo:
1 - Se a equipa B perde um jogador por expulsão ficando com 9, a equipa A nunca ataca com 10, deixa ficar do seu lado pelo menos 2, daí que avança só com 8, ironicamente, em inferioridade atacante.
2 - Se deixar ficar 1, avança e fica em igualdade, pois ataca com 9 e encontrará 9 a defender.
3 - O que reparo é que a equipa A, na maioria das vezes, mantém sempre 2 elementos atrás e nesse caso, se na equipa B ocorrer uma segunda expulsão, o equilíbrio mantém-se pois verificar-se-á uma igualdade de opositores, 8 contra 8...
Este meu raciocínio incomoda-me pois parece que uma uma virose apocalíptica tomou conta de todo o mundo a pontos de aceitarem a fraseologia da inferioridade numérica como um dado adquirido.
Mas eu sou doido e não vou nessa... !
Contudo, se tratássemos do efeito que as expulsões causam no rendimento dos atletas e da equipa por eles formada, o que não vai ser o caso, teríamos muito "pano para mangas"... e acabaríamos no campo da Psicologia. Cadê, o Psicólogo Desportivo ?
Talvez ele possa esclarecer o equívoco.
Francisco Velasco - 23 de Agosto de 2015
Nota: Este interessante artigo da autoria do nosso Amigo Francisco Velasco, foi escrito exclusivamente para Camarote Leonino. Endereçamos desde já o nosso mais sincero apreço pela extraordinária gentileza da sua prestação neste nosso espaço, que nos honra, convictos que será igualmente apreciada pelos nossos leitores.
* A imagem é obra da ilustradora oficial do Camarote Leonino
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