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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Contrariamente ao que, ao longo dos tempos, tem vindo a ser ampla e entusiasticamente publicitado por grande parte da comunicação social (muito particularmente a desportiva) e insistentemente sustentado por gente bastante mal informada ou de facciosa clubite, o tão propalado “Primeiro Derby” Sporting-Benfica, datado 1 de Dezembro de 1907, na realidade, nunca aconteceu.
E não aconteceu, simplesmente, porque, nessa altura, ainda nem sequer se imaginaria o surgimento de um qualquer Sport Lisboa e Benfica. O jogo ficticiamente cognominado de “Primeiro Derby” foi, na realidade, entre o Sporting Clube de Portugal (vencedor por 2-1) e o Grupo Sport Lisboa (agremiação nascida e estabelecida em Belém), tendo esta, por fusão com o Sport Clube de Benfica (colectividade prioritariamente dedicada ao ciclismo à data), estado na real origem do clube da Luz, fundado, efectiva e comprovadamente, em Setembro de 1908 – como certificado, de resto, aliás, também pelas actas 93 e 94 de 2 de Setembro do mesmo ano, citadas por um leitor do Camarote Leonino.
Trata-se, no fundo, de uma das múltiplas ficções, enigmas e contradições que envolvem a história do Sport Lisboa e Benfica. De uma mistificação que tem sido habilmente usada como reforço da fábula construída sobre a sua antiguidade. “Um caso surreal em que a cria nasceu no mesmo dia da sua progenitora”, como comentou, sarcasticamente, outro leitor. Uma fraude alimentada com a generosa cumplicidade de, entre outros, jornalistas e políticos aliados.
Enfim, uma clara adopção, consciente ou inconsciente, do notório e abominável princípio de Goebbels, em que uma mentira sistemática e persistentemente repetida acabará, com o decorrer do tempo, por se transformar em verdade…
São, aliás, inúmeras as fontes que atestam a data formal e verídica da fundação do SLB, incluindo, por exemplo, a Enciclopédia do Diário de Notícias, a conceituada historiadora Marina Tavares Dias e a publicação “Aqui Nasceu o Futebol em Portugal”, editada pela Câmara Municipal de Cascais quando da realização, no nosso país, do Campeonato da Europa de 2004, em que ilustra o seu texto alusivo ao nascimento, a 13 de Setembro de 1908, da colectividade benfiquista com uma fotografia de “a primeira equipa do Sport Lisboa e Benfica, em 1908”.
Todavia, e como se conhece, este não é caso único no que respeita à manipulação das datas de nascimento de agremiações desportivas, entre as quais se destaca outro dos chamados “Três Grandes”: o Futebol Clube do Porto – cuja fundação oficial, no dia 2 de Agosto de 1906, por iniciativa de José Monteiro da Costa, foi rigorosamente respeitada e anualmente celebrada até ao ano de 1988, quando (invocando-se a "extraordinária" descoberta de alguns antigos recortes de jornais) foi súbita e surpreendentemente alterada para 28 de Setembro de 1893 (acrescendo, assim, treze anos à existência da colectividade).
Facto que até muitos dos seus próprios sócios e adeptos classificam de autêntica fraude, praticada já na longa e nebulosa era Pinto da Costa – um dos arquitectos do “sistema” denunciado por Dias da Cunha e principal protagonista do célebre e infame processo de corrupção “Apito Dourado”, que acabou em nada, apesar de ter custado um dinheirão aos contribuintes…
Louvavelmente, porém, não são assim poucos os exemplos de integridade no que se refere a clubes de renome oriundos de fusões. Entre eles, os lisboetas Atlético Clube de Portugal (fundado em 1942 por junção do Carcavelinhos com o União) e Clube Oriental de Lisboa (que foi criado em 1946 entre o Chelas, o Marvilense e os Fósforos). Simples lições de honestidade.
Texto da autoria do nosso colaborador Leão da Guia
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