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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Recuperado de problema de saúde, Aurélio Pereira, actual conselheiro para a formação do Sporting, leonina, concedeu recém-entrevista em que fala nos seus cinquenta anos a lidar com jovens e a cada vez mais pronunciada pressão de pais e empresários no futebol.
Damos destaque a estas breves considerações suas:
"Raramente um jogador que traz o pai para empresário, o que acontece também com o Neymar, dá certo. Porque a maior vontade que ele tem é de ganhar dinheiro primeiro que os outros.
Os maus conselheiros, nomeadamente o pai quando se está a discutir contratos, é uma coisa deveras impressionante. Eu não faço contratos, não tenho feitio para isso. Mas isso é a pior coisa que há. O pai quer ser Jorge Mendes e o filho quer ser Ronaldo... E as coisas não batem com certeza. Estamos a falar de jogadores que tinham potencial enorme e o desperdiçaram em pouco tempo.
Tudo o que ocorre marginal ao nosso acompanhamento não podemos controlar. Que eles podem voltar a ser o que eram, vai depender. É muito chato. Disse isso ao Tiago Ilori, por exemplo. Ele estava aqui e já tinha contrato profissional e foi para o Liverpool, mas o Liverpool naquela altura tinha centrais de peso e ele teve alguma dificuldade a impor-se. Hoje é um miúdo que já tem outra cabeça, percebeu e até me disse ‘mister, devia ter feito o que você queria’.
No polo EUL trabalhamos miúdos dos seis aos 13. São 190. É ali que tudo começa e ali apercebemo-nos que os prodígios de futebol são tudo miúdos africanos, os nossos irmãos africanos. É o futebol de rua que está a regressar através dos bairros. Sem o futebol de rua não há jogadores fantásticos. Sem futebol de rua, esqueçam.
Quando passam para a Academia, fazemos os possíveis para que gostem de estar ali. Mas aos 13 já há empresários a ver... começam logo cedo a serem pressionados e os pais depois vão atrás e é uma situação chata. Temos de ter cuidado naquilo que dizemos aos miúdos. Autoestima e disciplina são fundamentais".
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