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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
“Os Homens não são maus por natureza;
atractivo interesse os falsifica,
A utilidade ao mal, e ao bem o instinto
Guia estes frágeis entes.”
A vida ensina, mais cedo ou mais tarde, a mesma lição a todos nós: existe uma diferença entre as pessoas extraordinárias, e as pessoas que cometem o erro de se considerarem extraordinárias em tudo o que fazem. Quem revê a própria existência na exclusividade de um estatuto extraordinário, revela amiúde dificuldade em gerir, com despretensão, quase tudo o que se apresenta fora da zona de conforto desse próprio estatuto. Revela dificuldade em lidar com as coisas simples da vida, pela própria falta de preparação para as... coisas simples da vida. Depois vitimizam-se, adoptando o “Nós, contra o Mundo”, perante claras dificuldades em se relacionarem com o meio. Ou com intenção de esconder algo que não interessa mostrar. E esta conversa do “Nós contra o Mundo”, tal como o “Nós, contra os Nossos”, começa a tomar conta do nosso Sporting, aos poucos, através de pessoas que por alguma razão esotérica se consideram extraordinárias. Na minha opinião, pessoas extraordinariamente ingénuas, ou irresponsavelmente ignorantes.
É com os principais culpados que se criam alianças?
“Nós, contra o Mundo”, foi uma mensagem que serviu os interesses do Futebol Clube do Porto durante largos anos, assentando deliberadamente numa causa: levantar fumo longe de onde o fogo deflagrava, colocando longe dos olhares o verdadeiro domínio federativo da instituição nortenha sobre Futebol português. Em Lisboa, Sporting e Benfica lutavam entre si pelos despojos, demorando quase 40 anos a perceber que gastaram todos os meios técnicos, administrativos ou financeiros em função de muito pouco. Não há clube no mundo que resista a isto durante 40 anos. Como é óbvio, o principal prejudicado foi o Sporting. Este estado das coisas gerou uma espécie de metástase de desconfiança entre os nossos adeptos, virando-nos contra a nossa própria gente, e contra os nossos melhores. Até António Dias da Cunha, a primeira personalidade desportiva a expor esta verdade inconveniente que outros dissabores lhe trouxe, foi desconsiderado como foi pelos sportinguistas.
A culpa é do Camarote Leonino
O Futebol português está como está, por uma razão muito simples – o “Nós, contra o Mundo” em versão azul-e-branca fez escola. Os dirigentes perceberam que através desta mensagem perpetuam a sua estadia no poder, absolvendo-se da justiça popular por palavras fáceis e ressonantes. Os adeptos transformam-se em milícias vigilantes, deixando de debater o Clube para acusar instituições de maior ou menor relevância, acreditando que só assim se ganha. No Sporting actual, os profissionais de pedradas no charco que por lá coabitam – Bruno de Carvalho e Nuno Saraiva – vivem disso mesmo. Na eminência da tentativa e erro em conquistar títulos para o Futebol, Bruno de Carvalho contratou um jornalista de agenda política para agitar as águas, confundir os adeptos, gerar milícias. Muito, para muito pouco. No fundo, um tarefeiro cuja utilidade se revela primordial para o tipo de presidência que se pretende. A fórmula é simples: o Clube é uma vítima, o Presidente é um mártir, a culpa é dos Croquetes. Dos Vouchers. Do Baldé. Da A’Bola. Da Liga. Da Federação. Do Cláudio Ramos. Da Maya. Ou do Camarote Leonino. Até Pinto da Costa, no meio da sua flatulência verbal, revelava maior elaboração: a culpa era sempre da centralização do poder do Império, em Lisboa.
Bruno de Carvalho e Nuno Saraiva transformam o trivial em tema, mas revelam dificuldade em trazer à discussão algo mais do que o óbvio. Colocam-se como advogados do Sporting para defender causas da Rua da Betesga. Conseguem transformar as suas tomadas de posição institucionais em algo verdadeiramente atípico ao cargo que ocupam, sem entenderem a ressonância perjurativa que isso invoca na marca Sporting. E precisam do Sporting, pasme-se, para terem um ordenado que justifique tudo isto que em boa verdade, me sabe a pouco. Quem sou eu? Simplesmente alguém que paga quotas para ser do Sporting, e não o inverso.
Ao Presidente.
Nunca pense em resumir o “Sporting A” a 20 anos antes da sua presidência, ou o “Sporting B” à sua presidência. O “Sporting A” não se resume a “Godinhos” nem o Sporting B se resume a si. O nosso Clube sobreviveu à prostituição federativa que existiu durante quase 40 anos, porque detinha a melhor Finança e a melhor intelectualidade da nossa praça. Tínhamos gente com categoria e capacidade, que soube proporcionar um rumo ao Clube sempre que as dificuldades surgiam. Sabe como Roquette pagou a penhora à instituição Segurança Social? Estes sabiam como sair sempre por cima, prestigiando o Clube. Como sabe, esta reestruturação financeira sem avalistas que temos, deve-se exclusivamente às relações comerciais, relações pessoais e suporte imobiliário desenvolvidas ao longo destas gerações presidenciais que você encontrou quando chegou a Alvalade, e não a qualquer rasgo de genialidade seu, ou a qualquer promessa fictícia de ordem financeira que nos tenha oferecido em plena campanha. Faça o seu trabalho, faça-o bem. É a única coisa que lhe pedimos em troca.
Ao Director de Comunicação
A 18 de Maio de 2016, no Diário de Notícias, você escreveu um artigo de opinião intitulado “Pessimismo”, de carácter óbvio, mas interessante. No qual foi dito por si, e passo a transcrever: “O mundo está perigoso. Por via democrática, isto é, através do voto popular, temos assistido nos últimos tempos à ascensão de personagens políticas de perfil tenebroso. Nas Filipinas, por exemplo, o novo presidente eleito é um populista de meter medo, como todos os populistas (…) Os povos europeus (…) sentem-se desiludidos e descrentes com o presente que o destino lhes reservou (…) e os políticos desbarataram todo o seu capital de credibilidade com promessas vãs de amanhãs que cantam e contradições absolutas entre aquilo que se diz e aquilo que se faz. Este caldo é terreno fértil para os demagogos e os inimigos da liberdade e da civilização. (…) Não tenhamos ilusões, o sucessivo défice de participação eleitoral é sintoma de um país entorpecido e alheado à espera de um qualquer D. Sebastião vindo da bruma. Sabemos, pelas lições da história, que não há nada pior para as democracias do que o sebastianismo messiânico. E de duas, uma: ou acordamos todos ou, um dia destes, entramos num pesadelo sem saída. Não é pessimismo, é realismo.”
Como sabemos que sabe escrever, aguardamos que saiba ler. O Camarote Leonino é pelo Sporting. A menos que se considere um qualquer Rodrigo Duterte ou Jean-Jacques Rousseau, dispensamos a sua comoção para com esta nossa lealdade ao Clube. Aqui, no Camarote Leonino, o que nos move é uma opinião pelo ponto de vista de adepto, não um decreto jornalístico. Eu particularmente, defendo a irradiação de toda e qualquer actividade proporcionada por Directores de Comunicação dentro dos clubes. Porque até hoje, não trouxeram nada de útil. Mas esta é a minha opinião.
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