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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Meados de Abril, em 2000, com o Dr. José Roquette
Quem sabe, um dia.
No dia em que ocasionalmente conheci o Dr. Roquette (no dia em que a foto acima foi tirada, em Abril de 2000), entre outros assuntos de natureza profissional, falámos muito sobre o nosso Clube. Preocupações de ambos acerca do presente e futuro eram demais evidentes, mas com a certeza de que só com um caminho racional e sustentado, coisas boas aconteceriam. Teria de se gastar dinheiro sim, e esse dinheiro teria de vir de algum lado seguramente – nada de Banca. Ficou a promessa de que nos voltaríamos a rever, se nesse ano o Sporting se sagrasse campeão. Nesse dia, o Sporting vence na Madeira, e 15 dias depois vence o campeonato. A palavra do Presidente manteve-se, e 10 dias mais tarde são-lhe exclusivamente apresentados pessoalmente, 5 profissionais de primeira categoria em diversos sectores, do meu conhecimento e confiança, cumprindo igualmente a promessa que eu tinha feito. Um português, quatro estrangeiros, e nenhum deles era suspeito – ali estavam os pulmões do maior projecto desportivo em Portugal, com profissionais de extraordinário gabarito, assim como a garantia de um futuro independente.
Mas no realismo de uns, sobrava a ansiedade e muita inveja de bastidores, de nomes que um dia terei o prazer de escrever sobre eles, quando tal for oportuno. Estes, infelizmente, dominavam uma ala no Clube e sabotaram a independência do Presidente, contando com o apoio de elementos organizados. Assim, tal os adeptos quiseram e Roquette saíu do Sporting. Os parceiros questionaram a integridade dos que por lá ficaram, furtando-se a designar vínculos com a demagogia. Perdeu o Sporting seguramente. 16 anos mais tarde, chegamos a esta conclusão: dos 5 parceiros colocados à disposição do projecto, um deles lidera actualmente destinos de um clube rival na sua internacionalização. Outro, apoiou a direcção desportiva no Chelsea de Abramovich na sua génese, até se incompatibilizar com Mourinho (Mourinho saiu, ele ficou, porque em Inglaterra a estrutura é uma coisa séria). Outro, viria a investir num clube em Espanha, anos mais tarde. O Sporting, esse, continua adiado, sem se entender que mais valem 5 anos a tentar do que 40 anos a chorar.
O Presidente que eu gostava.
Se me fosse questionado que Presidente gostaria de ver no meu Sporting, teria alguma dificuldade em responder. Mas seguramente, um ideal de independência orgânica assente em matrizes corporativas, mais do que emotivas. Um pouco de John Maynard Keynes, um pouco de Joseph Schumpeter. Talvez um pouco de João Rocha, com um pouco de José Roquette. Se funcionaria, não sei. Mas acredito que funcionaria. Se me perguntassem como gostaria que fosse o Sporting, como Clube, a minha resposta seria sempre a mesma: aquilo que ele é. As instituições sobrevivem sempre às pessoas, independentemente do que as pessoas considerem como sendo o melhor para as instituições. Sendo que o Clube existe desde a sua fundação, caberá a cada um daqueles que acredite fazer a diferença, expor o que considere fundamental incrementar com o seu conhecimento e sensibilidade. O Clube sai sempre a ganhar quando a excelência é colocada ao serviço dos seus destinos.
Schumpeter e Keynes foram os dois economistas que mais admirei. Se Schumpeter fosse, um dia, presidente do Sporting, diria que um dos maiores problemas do Clube debate-se com o Monopólio existente na planície competitiva portuguesa. Para ele, seria a falta de criação de um percurso financeiramente autónomo que não mais do mesmo nos últimos 40 anos – a principal razão pela qual o Sporting, pela falta de métodos, ficou ultrapassado pela concorrência. Já Keynes, no mesmo cargo, diria que perante a incerteza do futuro, teria o Sporting de gerar correlações com todos os agentes desportivos e financeiros à sua disposição na indústria (e mesmo fora dela, diria eu), afim de proteger a sua durabilidade como emblema competitivo a longo prazo, evitando a disfuncional perda de capacidade competitiva alheia à sua vontade. Ambos teriam razão. Schumpeter, inovador como Rinus Michels, o criador do Futebol Total. Keynes, como Cruyff, o expoente que materializaria tal conceito.
Entre a placidez de uma maternidade e a insanidade de um hospício, Alvalade (às vezes) é assim.
Continuaremos a adiar o Sporting, enquanto a discussão eleitoral estiver apenas e só centralizada no “esqueleto” da serpente, e não na sua adaptabilidade ao meio. Esteve Bruno de Carvalho, a bem da instituição que lidera, alguma vez adaptado ao mundo do Futebol como ele é? Estará algum dia Pedro Madeira Rodrigues apto ao mesmo desafio? Definitivamente que não. Provavelmente nunca nenhum de nós estará. Porque parece que ninguém ainda entendeu que do modo como continuamos a discutir e a entender o futebol, todas as teorias/projectos se esgotarão, mais cedo ou mais tarde, nas quatro linhas de jogo, onde quem determina o destino nunca são os presidentes. Porquê? Porque ninguém tem capacidade nem coragem de fazer um projecto em condições, enquanto todos ralharem sem razão.
Caberá a um Presidente digno desse nome, a criação de uma atmosfera fértil em soluções humanas, corporativas e económicas, que privilegiem a materialização de algo que se consiga efectivamente debater. Senão, andaremos todos a discutir nada mais do que promessas, como tem sido apanágio ao longo destes 40 anos. Se um candidato tivesse, algum dia, coragem de admitir a verdade – que o Sporting não tem ainda andamento para ganhar títulos maiores em Futebol – e cujo interesse da sua candidatura nada mais é do que trazer para o Clube as pessoas, parcerias e instituições que tornem o emblema mais poderoso, esse candidato teria o meu voto. É honesto associarmos apenas à gentileza de um sorriso a certeza de futuras conquistas? Se a intenção é desenhar condições para que os Sócios acabem invariavelmente desiludidos, então que se continue assim.
Com humor, para finalizar. Vamos lá Sporting!
Cândido como sempre, ao bom Futre faltaria um pouco mais de instrução na ternura da sua mensagem. Antes de partir em direcção ao Oriente, em formato Lonely Planet e de Go Pro em punho em busca de Pokemons, o Sporting e os sportinguistas têm de conciliar primeiro passado, presente e futuro – juntar aqueles que fantasiam como Sousa Cintra com os que materializam como João Rocha. Acutilantes como Henrique Medina Carreira como congregadores como Alexandre Soares dos Santos. Tem de se unir na mesma mesa, aqueles que pensam como José Roquette como os que sonham como Bruno de Carvalho. Porque todos são sportinguistas, e todos podem, ao seu jeito e ao serviço do Sporting, contribuir com algo que nos torne mais fortes.
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