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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Ao invés de uma lógica de esperança que adequam à vida privada, as pessoas tendem a ser naturalmente desconfiadas em relação ao futuro colectivo da sociedade – uma dissonância cognitiva de quem é, por natureza, adverso ao risco ou ao desconhecido.
Avaliamos a vida pela volúvel arbitrariedade das nossas experiências, raramente fazendo-o com devido distanciamento.
Quando se fala de um Sporting Clube de Portugal socialmente desunido, fala-se de um problema de dimensão social muito superior ao que julgamos exclusivamente circunscrito aos adeptos do Sporting. A falta de crença na instituição ou nas pessoas não nasce dentro do Clube, mas dentro de nós próprios.
Num sentido macro, não gostamos de Futebol tanto quanto gostamos do Sporting. Num sentido mais básico, o sentimento de lealdade à tribo isola-nos socialmente por grupos de interesse, tornando-nos intolerantes não apenas ao que nos distingue, como igualmente a qualquer mudança.
Ao longo dos últimos trinta anos, monopolizamos capas de jornais fundamentalmente pelas nossas crises, mais do que por qualquer mérito desportivo. Foi deste modo que o País se habituou a “olhar" o nosso Sporting. Foi deste modo que as novas gerações de sportinguistas adoptaram um 'meme' pessimista na sua mente. Foi deste modo que os fóruns de discussão sobre o Sporting se tornaram embaixadas de dogmas. Foi deste modo que se acabou por eleger Bruno de Carvalho. Foi deste modo que, em resultado de toda uma frustração que se acumulou, se deu o ataque à Academia. Não se trata de um flagelo, mas de uma auto-flagelação.
Frederico Varandas não foi eleito pela maioria social dos Sócios, mas pelo “mindset” da maioria nuclear de Adeptos com mais votos. Logo, o establishment pessimista que por sua vez é maioritário, não o desejava desde início, e pior, nunca o irá apoiar. Quanto muito, resignar-se-á apenas na conveniência de resultados de Futebol melhores.
Num naufrágio, presumo que a emergência do momento imponha as escolhas possíveis, não necessariamente as desejadas. Infeliz Varandas que, nesta parábola grotesca de um naufrágio, tem de lidar com um ex-Presidente equiparado a sereia, com poder de encanto sobre os homens, e por fim, Ricciardi num iate a acenar com uma bóia.
Em síntese: nas últimas três décadas, os Sócios do Sporting Clube de Portugal admitiram dez presidentes, dez projectos que configuraram todos eles dez rupturas com o passado. Em trinta anos de futebol, o Sporting iniciou o seu “ano-zero” nada mais do que por três ocasiões.
Cada presidente tem, em média, uma taxa de sucesso no futebol de apenas 8%. Com uma centralização de cerca de um Bilião de Euros de investimento na modalidade em três décadas, o Sporting tem hoje, muito provavelmente, o seu plantel mais deficitário no que concerne a qualidade técnica e valores de cultura Sporting.
Pessoalmente, não nutro qualquer empatia por Frederico Varandas. Quem lê os meus cansativos textos saberá de antemão que este não é, sequer, o Sporting que idealizo. Mas impera questionar: querem que Frederico Varandas resolva um legado de trinta anos de decadência?
Nota: No mesmo dia em que José Roquette precisou de escolta para comparecer numa Assembleia Geral – obrigado Humberto Évora –, José Sousa Cintra "decidia" toda uma temporada, a jantar numa conhecida marisqueira de Algés. O problema não está no Sporting que temos. Está no Sporting que nos escondem.
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