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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Sobre as claques organizadas no futebol já sabemos tudo e há demasiado tempo. Há estudos académicos de grande nível, há leis nacionais e da União Europeia, há uma generalizada censura social e política da violência no futebol, mas a "velha" impunidade persiste. Há uma lei, a 39/2009, sujeita a sucessivas alterações na última década, que permanece um monumento à hipocrisia do Estado. Os governos têm feito declarações de circunstância aqui e ali mas, no essencial, lavam as mãos como Pilatos.
O mundo despertou para o perigo das claques com a tragédia de Hysel Park, em Maio de 1985, na tristemente célebre final da Taça dos Campeões Europeus em que morreram 39 pessoas. Mas Portugal nunca despertou. Até aos anos 90 não existiam Super Dragões, Juventude Leonina ou No Name Boys. Existiam adeptos que gostavam de ver futebol, que tinham as suas rivalidades, é certo, mas não eram grupos organizados, financiados pelos clubes. Não existiam líderes eternos nas claques que exibissem verdadeiras fortunas em termos patrimoniais sem nenhuma explicação lógica, que tivessem ligações ao submundo da droga ou fizessem e desfizessem direcções.
O Sporting transformou-se no caso mais grave de todos. É o primeiro exemplo de um clube que foi dominado por uma claque. Uma claque que elegeu um presidente que, por sua vez, deu uma excepcional situação de privilégio a esse grupo, transformando-o na sua guarda pretoriana. O dito presidente saiu mas o vírus ficou.
Os estudos académicos feitos em toda a Europa sobre o hooliganismo e a ideologia ultra explicam muita coisa sobre as claques e, cada vez mais, a sua ligação ao crime organizado. Em Itália, de Milão a Palermo, os comportamentos violentos, a intimidação e o ódio, o poder e os negócios detectados nas três maiores claques portuguesas, são os ingredientes que levam a Mafia a utilizar estes grupos radicais nas suas vinganças e estratégias de terror. Por isso, os que agora se riem da luta de Frederico Varandas contra a Juventude Leonina podem um dia ter de chorar. O mal também está na casa deles. Varandas pode não ganhar esta luta porque a falta de resultados desportivos não agrega vontades. Mas uma coisa é certa: no campeonato da decência Frederico Varandas está a golear por vinte a zero. E é lamentável que os outros clubes ditos ‘grandes’ não se juntem a ele numa frente unida pela paz no futebol, pressionando um poder político totalmente inepto no ataque a esta tragédia social.
Texto da autoria de Eduardo Dâmaso, Director da revista Sábado.
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