De Marcos Cruz a 25.10.2019 às 12:38
A equipa continua a jogar sobre brasas e concordo com a opinião expressa pelo Gonçalo Guimarães, n'A Bola de hoje, de que o Silas "fala muito em novas ideias mas convém que elas se vejam". E ontem, um mês depois de ele ter assumido o comando, voltaram a não se ver. Haverá quem conteste isto, como de costume, com base na teoria de que "ainda é cedo para podermos cobrar alguma coisa", à semelhança do que aqui fizeram quando eu, face à pobreza dos jogos de pré-época, escrevi que faltava raça, empenho, compromisso e ambição, além de, eventualmente, qualidade. O Indiana Julius, por exemplo, veio puxar dos seus galões de ex-treinador para me ensinar que nas duas primeiras semanas não se pode exigir nada da equipa. O Rui Gomes veio sublinhar que o meu texto dava para perceber que eu nunca tinha andado no futebol. Pois é, mas o resultado está à vista, e as justificações dos entendidos de pouco nos servem. A falta de compromisso e de ambição - e depois, sim, a confirmada escassez de qualidade - eram já nessa altura claramente detectáveis. Eu não sou resultadista, nunca fui, porque acho que os resultados são consequência dos processos. Do empenho, do prazer, da crença nos processos. O resultado de ontem ajuda a equipa a recuperar confiança, mas importa saber em quê, em que é que a equipa pode confiar. Não sabemos. O ideário de Silas, cuja capacidade de comunicação eu até aprecio, não tem ainda expressão no campo. Ontem, por exemplo, chateou-me ver aquela posse de bola sonolenta, inofensiva, previsível, com um mundo inteiro entre a linha média e o Luiz Phellype, sozinho lá na frente, incapaz de se bater contra os centrais noruegueses e não apenas por culpa própria. Assim como me irritou, apesar disso, dessa segurança que a posse alegadamente confere, a facilidade concedida às transições ofensivas do adversário. E convenhamos: pusemo-nos várias vezes a jeito do empate, podendo agradecer a falta de qualidade técnica da generalidade dos jogadores do Rosenborg. O Lask Linz foi o que foi: uma vitória caída do céu. Ontem pode ter caído de mais baixo, mas pouco. E assim continua a não se antever a melhoria de que precisamos: uma sacudidela nas mentalidades, uma chamada forte ao compromisso, para que possamos dar tudo e que, no fim, independentemente dos resultados que se apurem, pelo menos se conclua: quem dá o que tem a mais não é obrigado. Dito isto, congratulo-me com as medidas da direcção em relação às claques. Varandas tem muito mais gente a criticá-lo, a vaiá-lo, a espezinhá-lo, do que os jogadores e, ao contrário deles, não se encolhe. Aí, sigam-lhe o exemplo.