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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Rebentou a crise em Alvalade como nunca se vira antes. Bruno de Carvalho anunciou ontem à tarde no Facebook a suspensão de todos os jogadores que partilharam nas redes sociais um comunicado em resposta às críticas do presidente do Sporting a alguns atletas após a derrota diante do At. Madrid, dos quartos-de-final da Liga Europa.
Ou seja, até informação em contrário, 19 futebolistas do plantel principal, entre os quais os capitães William Carvalho, Rui Patrício e Coates, estão suspensos e vão receber notas de culpa dos respetivos processos disciplinares. Ao que o DN apurou, as notificações serão entregues em mão esta manhã quando se apresentarem em Alcochete para treinar (às 10.00 horas). Fonte do Sporting, contudo, assumiu que pode dar-se o caso de nem todos as receberem, pois a SAD entende que há uns mais culpados do que outros neste processo. Se tal acontecer, quem não receber continuará a treinar-se.
O número de jogadores solidários até pode subir (há sete que não estão notificados), pois alguns não têm conta em redes sociais e, como tal, não publicaram o comunicado, no qual expressaram o "desagrado" do plantel em relação às críticas do presidente e lamentaram "a ausência de apoio" de quem, dizem, "deveria ser" o líder da equipa. "Todos os assuntos resolvem-se dentro do grupo", lia-se no comunicado.
A situação foi espoletada durante a tarde, após uma manhã turbulenta em Alvalade, para onde os jogadores seguiram após regressarem de Madrid (10h30) para serem submetidos a banhos e massagens. Foi nessa altura que os futebolistas exigiram a presença de Bruno de Carvalho para que tudo fosse esclarecido cara a cara. Só que o presidente, que não esteve com a equipa no jogo em Madrid, estava numa audiência na Procuradoria-Geral da República, não tendo por isso comparecido em Alvalade.
Ao que consta, foi o treinador Jorge Jesus - que sempre esteve ao lado dos jogadores - a amenizar o ambiente numa reunião com o plantel, que terminou com os jogadores a seguirem para casa, tendo ficado em aberto dois cenários: o boicote ao treino deste sábado ou um comunicado conjunto e público de todo o plantel. Ao início de tarde, os danos causados por este conflito pareciam controlados, mas por volta das 18.00 horas os capitães Rui Patrício e William Carvalho publicaram o comunicado nas respetivas contas de Instagram, tendo de imediato sido seguidos por outros elementos do plantel.
Não demorou muito até que Bruno de Carvalho explodisse na sua conta de Facebook, numa publicação que não estava aberta ao público e só disponível para os amigos daquela rede. O presidente anunciou a suspensão de todos os subscritores e passou ao ataque pois, segundo uma fonte do Sporting, não esperava esta reação de força dos jogadores e sentiu-se por isso traído. "Já estou farto de atitudes de miúdos mimados que não respeitam nada nem ninguém", escreveu o líder leonino, que foi mais longe:
"Estas crianças mimadas julgam que vão longe
mas desta vez a minha paciência esgotou-se para
quem acha que está acima do clube e de qualquer crítica"
A publicação de Bruno de Carvalho representou o extremar de posições, bem patente no facto de alguns atletas que ainda não tinham partilhado o comunicado o terem feito após a reação do presidente: foram os casos de Rafael Leão, Doumbia, Wendel, Ristovski e Fábio Coentrão. Este último, aliás, foi um dos visados das críticas do líder leonino após o jogo de Madrid.
Aliás, além do defesa-esquerdo também foram criticadas as atuações de Mathieu, Coates, Gelson, Fredy Montero e Bas Dost que, tal como Coentrão, foi acusado de ter visto um cartão amarelo diante do Atlético de Madrid por não querer jogar a segunda mão em Alvalade.
Equipa B com o Paços de Ferreira
A suspensão dos atletas do Sporting mereceu entretanto do Sindicato dos Jogadores uma posição de "total solidariedade" com o plantel leonino, num comunicado onde a instituição lamentou que "após apelar a que os dirigentes resolvam internamente, e não no espaço público, os problemas existentes com os seus jogadores, tal apelo não tenha sido acolhido pelo presidente do Sporting". O organismo presidido por Joaquim Evangelista "condena a tomada de posição pública do presidente do Sporting" em "tecer críticas à performance desportiva dos jogadores".
Segundo fonte próxima do processo, ontem à noite as posições estavam extremadas, razão pela qual não havia no horizonte forma de resolver o conflito que, ao que tudo indica, irá obrigar Jesus a recorrer aos jogadores da equipa B para defrontar amanhã (20.15) em Alvalade o Paços de Ferreira, na jornada 29 da Liga. Mais problemática será a tarefa do treinador para o jogo de quinta-feira com o At. Madrid, também em casa, se a suspensão dos atletas se mantiver, uma vez que terá de socorrer-se dos 26 jogadores da lista B (juniores) que inscreveu na Liga Europa. Isto caso se confirmem as suspensões dos 19 atletas, algo que, recorde-se, fonte dos leões disse que poderá não acontecer.
O DN procurou saber junto do advogado Bernardo Morais Palmeiro se, perante a situação que criada em Alvalade, os jogadores do Sporting poderão ter algum motivo para evocar rescisão dos seus contratos. O antigo jurista da FIFA considera que "neste momento ainda não há matéria para poderem pensar em rescisões com justa causa", adiantando que "é preciso perceber os próximos desenvolvimentos". "A confirmar-se que os jogadores que subscreveram o post estão suspensos, terão de ser notificados em notas de culpa de processo disciplinar. Depois é preciso perceber do que serão acusados e só aí se poderá fazer uma análise jurídica mais concreta", frisou o especialista em direito desportivo.
Um caso sem precedentes
Esta crise não tem paralelo nos três grandes do futebol português. Os rivais, no entanto, já viveram situações complicadas, sendo que a mais significativa envolveu o FC Porto em 1980, quando o presidente Américo de Sá demitiu o então diretor do futebol Pinto da Costa e, na sequência, o treinador José Maria Pedroto deixou o clube e 15 jogadores recusaram treinar-se, entre os quais António Oliveira, Lima Pereira, Frasco, Fernando Gomes, Jaime Pacheco, Octávio Machado e António Sousa.
No Benfica foi o presidente Vale e Azevedo o protagonista dos casos mais complicados, tendo o conflito com o capitão João Vieira Pinto redundado no seu despedimento em 2000.
***Reportagem do Diário de Notícias
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