Reacção do G15 à nova lei de segurança é, em simultâneo, uma cambalhota, um ataque de amnésia, uma hipocrisia, uma prova e um bom sinal.
O G15 acha que a nova lei de segurança "diminui os clubes" e "assume a indústria do futebol como um problema para a segurança pública". Para um movimento que se iniciou com o pretexto de pôr na ordem os três grandes, por ser considerado que estavam a "incendiar" o ambiente, o mortal à rectaguarda não podia de modo algum ser mais pronunciado, nem contraditório.
As diligências que os clubes têm supostamente feito para controlar os respectivos adeptos vão de inexistentes a duvidosas, na maioria dos casos, e a manipulação deliberada e suja que alguns deles fazem das massas já está provada, em documentos e testemunhos, sem que o G15 tenha mencionado essa praga, sequer de raspão.
Por outro lado, há uma série de casos em tribunal, alguns já com sentenças, que provam inúmeros tipos de más condutas de clubes - e aí não são apenas os grandes, como não são apenas eles que falam de árbitros, como geralmente também não são eles que irritam os adeptos com antijogo e muitas outras práticas que compõem a actual cultura do futebol português.
Algum presidente censura um treinador por o ter feito? Ou por insultar um árbitro à vista de todos? Castigam internamente um jogador por agressão? Ou por simular um penálti? Abrem inquéritos a adeptos? Expulsam-nos? Talvez tenha acontecido, mas não tenho notícia disso. Sei é que as câmaras de vigilância de alguns deles avariam em momentos convenientes; que os castigos aplicados até agora não funcionam e que os jogos à porta fechada os incomodam muito, sinal de que devem manter-se na lei (embora fosse preferível a interdição pura e dura).
É a mentalidade dos clubes que tem de mudar primeiro e a pronta reacção do G15 ao esforço da nova lei foi pôr essa hipótese imediatamente de parte. Comprovando-a.
José Manuel Ribeiro, jornal O Jogo