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Pensar 'fora da caixa'

Rui Gomes, em 17.06.20

img_192x192$2015_10_20_12_03_36_1006065_im_6366770Quando se cavaqueia sobre as escolhas ditas arrojadas de Rúben Amorim, sejam elas o sistema e o modelo de jogo ou o baptismo de jovens mancebos, as opiniões maioritárias da praça vão muito no sentido de o treinador do Sporting CP estar já a preparar a próxima época. Mas, sem nunca ter privado com o jovem técnico, arrisco dizer que o arrojo que sobressai das suas recém-escolhas tem principalmente a ver com o seu temperamento. E, claro, com a firmeza e a rebeldia higiénicas que se descobrem nas suas concepções futebolísticas.

Desconheço se estes traços de carácter e convicções contribuíram para que Frederico Varandas e Hugo Viana se tenham enfeitiçado por um treinador que, na altura, só tinha 13 jogos (e dez vitórias) no futebol profissional. Mas terá de ter sido algo do género, mais transcendental e metafisico, a fazer com que o grupo de responsáveis leoninos arriscassem satisfazer a cobiça do sempre pragmático António Salvador.

De facto, quando o Sporting aceitou pagar dez milhões de euros ao SC Braga (a terceira verba mais alta alguma vez paga no mundo inteiro por um treinador) não o fez certamente por confiar no currículo (Amorim acabara de ganhar uma Taça da Liga) ou na experiência de quem conta apenas 35 anos de idade e começara a actual época à frente da equipa B bracarense. O que Frederico Varandas e Hugo Viana terão entrevisto em Amorim foi a forma desassombrada como ele pensa e age "fora da caixa".

E, se de facto foi isso, até faz algum sentido, porque muitos dos treinadores que marcaram de forma indelével o futebol, em Portugal e por esse mundo fora, tinham em comum essa tendência para se exporem e ousarem. Churchill dizia que a coragem é a primeira virtude do estadista, porque, sem ela, todas a outras virtudes desaparecem na hora do perigo. Nisso, o futebol não difere muito da política e ter um treinador descarado e tenaz acaba, muitas vezes, por ser uma grande vantagem.

Amorim foi, provavelmente, o treinador menos atrapalhado pela paragem da liga. A "pré-época" a meio da temporada também criou transtornos ao Sporting, mas o seu treinador teve o tempo necessário (que nunca teria em condições normais) para passar as suas ideias. O Sporting ainda não apresenta o futebol exuberante que Amorim ofereceu em muitos jogos do Braga – o que pode ser explicado por várias vicissitudes, desde logo o maior traquejo e superior oferta do plantel bracarense. Mas, os jogos com o V. Guimarães e com o Paços de Ferreira já permitiram confirmar não só uma melhoria progressiva, mas também que a evolução assenta em ideias inegociáveis e alicerçadas na qualidade do treino.

A exemplo do que fez em Braga, Amorim pretende que o Sporting seja uma equipa sempre equilibrada, com uma defesa poderosa e um ataque variado e cortante. Tudo assente num 3x4x3, que se transforma em 5x4x1 em organização defensiva. Os alas (Jovane e Vietto) funcionam como Salah e Mané no Liverpool: jogam muito por dentro, para surgirem no apoio a Sporar e para permitirem a projecção dos laterais. Esse posicionamento mais interior favorece as transições ofensivas, um dos tópicos em que o Sporting já se revela agressivo e consistente.

Claro que é bastante cedo para tirar grandes conclusões. Mas há escolhas de Amorim que denunciam a grande vontade de jogar um futebol dominador e autoritário. Viu-se isso quando escolheu Wendel para fazer o papel que costuma pertencer ao lesionado Battaglia ou quando deixou de fora Ristovski e Rosier e preferiu dar a lateral direita a um jogador (Rafael Camacho) com mais argumentos na construção ofensiva.

A lesão de Vietto acabou por ser uma grande contrariedade. É uma das peças mais difíceis de substituir. Não só por ser um jogador tecnicamente sobredotado e muito inteligente nas movimentações (sabe pousar o jogo quando é preciso), mas também por já ter a tarimba que se nota faltar a muitos dos seus companheiros.

Artigo da autoria de Bruno Prata, em Record

publicado às 03:48

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