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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Comentário do leitor FERNANDES ao post intitulado A mais desinteressante teoria sobre o Futebol português, Pt.1, da autoria de DRAKE WILSON:
"A meu ver Roquette é o grande responsável pela "destruição" do Sporting tal como ele existiu ao longo da sua história. Não que o clube fosse estático, esteve sempre em constante mudança, mas perdeu-se algo de único, fruto das ideias que implementou. Mas não quero entrar por aí, é apenas uma opinião.
Esta minha intervenção prende-se mais com o "totalitarismo presidencial", que de facto é assustador.
Só um pequeno exemplo: ninguém faz a mínima ideia quanto custa o andebol. Se o presidente quiser gasta 1.5 milhões de euros. Ou 5 milhões. Para os sócios vai dar exactamente ao mesmo. Sócios esses que... aprovam as contas e orçamentos. Estranho? Aparentemente é inquestionável!
Isto para chegar onde? Afinal, o que impede os adeptos de se organizarem e terem uma palavra activa na vida do clube? A realidade é que os adeptos, contra ou a favor da direcção em exercício, nunca questionam a forma como o poder é exercido, apesar do poder emanar... dos próprios adeptos.
O que vemos é o totalitarismo presidencial dentro e fora do clube, mas acima de tudo na cabeça de cada pessoa. É assim, porque sempre foi assim, mas quem não gosta limita-se a dizer "o que tem de ser tem muita força", "antes é que era bom", "eles fazem o que querem", até à desgraça seguinte, que hipoteca o futuro do clube durante décadas.
É assustador que 3 grandes da Europa (é um problema cultural) não tenham entre si uma única associação de adeptos que vise melhorar os clubes de fora para dentro, que procure dizer "isto vai mudar, a bem ou a mal, porque nós não vamos desaparecer". Não que queira "discutir", "falar" e por aí fora, mas que queira, por exemplo, denunciar o presidencialismo totalitário, e defender uma visão diferente a todo. Estamos a falar de 130 mil pessoas por jornada que têm um peso nulo nos clubes, excluindo numa ou outra decisão muito espaçada no tempo (muito mesmo), até porque a esmagadora das "decisões" colectivas não passam de carimbar o que já foi decidido.
Enquanto 50 ou 100 pessoas altamente organizadas não tiverem como missão existir à margem da engrenagem totalitária, é impossível algo mudar. Ou alguém tem dúvidas que se amanhã Pedro Madeira Rodrigues fosse eleito, o totalitarismo presidencial continuava intacto?
O que me faz mais confusão é que existem imensas pessoas que dedicam milhares de horas ao clube em todo o tipo de funções/actividades extra-ver jogos de futebol (este blogue, apenas um exemplo), mas essa dedicação e persistência ou é profundamente individualista ("eu penso assim", e o resto do mundo é estúpido, estilo BdC) ou fica sempre à porta do que realmente interessa: mudar a forma como o clube é organizado, ou seja, transformá-lo numa organização aberta, transparente, digna e respeitável (isto claro, sabendo que existe para alcançar objectivos desportivos no futebol). Retirar os clubes de 1956 e trazê-los para 2018!
No entanto, parece uma utopia ao nível de acabar com a guerra a ideia de um grupo de pessoas se juntar em prol do seu clube, à revelia de totalitarismos, ou melhor, contra eles!".
Resposta ao leitor FERNANDES do nosso redactor DRAKE WILSON:
Nunca poderemos constituir juízos sobre mandatos presidenciais no Sporting, sem observarmos todo um passado que condicionou a actuação dos mesmos, como igualmente influenciado o surgimento dos próprios. Considerar Roquette como “responsável pela destruição do Sporting como ele existiu”, só pode ser um equívoco da sua parte.
José Roquette teve Jorge Gonçalves, Sousa Cintra e Santana Lopes como antecessores – o maior presente envenenado na história do Sporting. Foi Santana Lopes que, no alto da sua imunidade divina no que a decisões erradas diz respeito, decidiu extinguir 4/5 Modalidades no Clube após aprovação dos Sócios, sem influência ou opinião dos restantes Orgãos Sociais do Clube – entre eles José Roquette, na altura Presidente do Conselho Fiscal. É em 1996, com o Sporting em incumprimento com Atletas, Estado, Banca e outros Credores, que Roquette chega à presidência do Clube – com um Passivo na ordem dos €35 Milhões.
Com uma margem de actuação sempre condicionada pelas circunstâncias, Roquette procurou a estabilização financeira imediata, através de diversas resoluções perante o Estado português no que respeitava a impostos e dívidas sociais. Faz um acordo com o BCP poupando ao Sporting 3 anos de Juros em dívida. Cria a primeira Sociedade Desportiva em Portugal, desenha uma estratégia de independência financeira que outros copiaram, de onde nasceu o Estádio e viria a surgir a Academia. Foi, no decorrer da sua presidência, conquistado um Campeonato Nacional.
Roquette teve de lidar com dois sérios cancros no Sporting. Um deles, um indivíduo que gozava de privilégios em excesso no Clube, ex-membro do Conselho Fiscal de Amado de Freitas, amigalhaço de Balsemão e Santana. Outro, o grande traidor de José Roquette e do Sporting por conseguinte, estando na origem de um negócio que o favoreceu em €20 Milhões, metade do que prejudicou o Clube: mais de €40 Milhões. Ambos, só anos mais tarde foram corridos do Clube, felizmente. Opto por ficar por aqui em relação a este tema.
Como pode constatar, coube a José Roquette o trabalho mais difícil no período mais complicado. Nenhum Presidente na era moderna do Sporting fez tanto com tão pouco. E nada neste trajecto me soa a “destruição”.
Outra questão que refere e da qual discordo, relaciona-se com o “poder dos Adeptos” – os Adeptos não têm poder algum no Futebol, porque o Futebol é movido a resultados e não a associativismo. O Candidato que promete resultados (que mente, pois ninguém pode consagrar o Futuro como garantido) permite aos Adeptos portugueses o seu próprio existencialismo. Nomeadamente os que acompanham em bloco, que pensam em bloco, que condicionam em bloco e que votam em bloco – as Claques, pouco dadas a meditações de ordem racional mais do que o ódio que sentem pelos rivais. Os restantes Adeptos, que são a maioria, só surgem quando os resultados apelam, aplicando o seu dever interventivo à compra de bilhetes, cachecóis, e pouco mais.
Finalmente, no que toca ao Andebol. No Sporting, esta Modalidade é gerida por um grupo de yes-men, onde à revelia do presidente e perante os atletas, agem eles próprios como presidentes. Com um simpático Treinador cujos sistemas de treino estão ao nível do que se aprende no liceu, sobra o orçamento para termos um plantel recheado de estrelas. Conquista-se o Campeonato e a EHF com relativa facilidade, e está o assunto resolvido. Porque o que interessa é mesmo isso: os resultados. A ninguém interessa o orçamento. Como igualmente a alguém interessa o comportamento ditatorial de Galambas perante os jogadores – que curiosamente divide a atenção ao jogo com sms’s por telefone, num excelente exemplo para os atletas.
Os orçamentos aplicados pelo Clube às modalidades são uma estratégia pífia e momentânea desta Presidência em promover a sua própria imagem – como a maioria das suas intervenções em qualquer âmbito –, cuja insustentabilidade levará a que já no próximo ano surja um desinvestimento assinalável. Aliás, não afirmo nenhum segredo, tendo em conta o que terá já sido dito pelo próprio Presidente ainda em 2017: “Ou largam o Facebook e trazem uns amigos para Sócios, ou seremos obrigados a cortes substanciais nas modalidades”.
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