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Ponto de vista nortenho

Rui Gomes, em 01.05.17

 

Estava escrito nos editoriais que aos broncos nortenhos estava destinada a autoria do primeiro acto trágico do futebol português.

 

Os ingleses chamam-lhe "bias". Significa influenciar o modo de contar uma história, distorcê-la para favorecer um ponto de vista ou reforçar um preconceito. "Bias" é parente do viés português, que quer dizer esguelha, soslaio, enviesar, mas o verbo manipular é o que mais se aproxima do tal "bias", embora sem a mesma leveza. Vem isto a propósito da morte do adepto do Sporting nas imediações do Estádio da Luz.

 

image.jpg

 

Durante anos, desde que há Imprensa livre e sobretudo desde que há televisão privada, a opinião pública foi sendo preparada para a eventualidade de a primeira morte entre adeptos acontecer às mãos dum adepto do Porto. Cada escaramuça, cada distúrbio numa estação de serviço da A1 continha em si o eco premonitório da tragédia, ao passo que os mesmos factos a Sul eram objecto de tratamento menos histérico.

 

Nos anos noventa havia quem jurasse em Lisboa que Pinto da Costa se movimentava escoltado por capangas de Kalashnikov, e que a polícia fechava os olhos por medo. A ideia duma violência cega, exclusiva do Porto, enquanto a de outros se situava no limite do desmando tolerável, encontrou terreno fértil e ascendeu ao tabuleiro do mito urbano. Como se trezentos quilómetros bastassem para criar o abominável grunho do norte e o inócuo grunho do sul, mais concretamente da Segunda Circular. Ou como se o grunho do futebol não fosse uma categoria sociológica universal, de Buenos Aires a Moscovo, mas uma bizarria indígena que medra a norte do sistema Montejunto-Estrela, como um cardo bravio.

 

Estava escrito nos editoriais que aos broncos nortenhos estava destinada a autoria do primeiro acto trágico do futebol português. Mas, por ironia macabra, ele aconteceu numa final de Taça entre Benfica e Sporting. Lisboa indignou-se, desdobrou-se em condenações e votos de pedagogia, mas, lá no fundo, essa Lisboa remoeu a perplexidade de não ter sido um grunho do Norte a lançar a primeira tocha. Recentemente, quando um árbitro foi agredido sem dó num jogo do Canelas, a cena passou em "loop" na televisão até à náusea - por certo com fins profiláticos. Ou talvez não se tratasse de profilaxia, nem de defesa da arbitragem, nem de responsabilização dos clubes, mas de cupidez noticiosa pela ligação do agressor a uma claque do Porto. Agora, perante a morte deste adepto, o país jornalístico, ciente do peso da sua clientela maioritária, exibe uma espécie de embaraço etnocêntrico e remete-se a uma contenção responsável.

 

Estivesse um grunho do Porto sob suspeita num caso semelhante e quase aposto que circulariam já imagens provenientes de misteriosas fugas na investigação policial. Lembrei-me daquela senhora de Oeiras num qualquer telejornal, quando os jovens finalistas causaram estragos em Torremolinos. Dizia ela, com a distinção de que só as damas da Linha são capazes, que tinha falado com o filho ao telefone, tendo ele garantido que tudo aquilo era obra dum pequeno grupo do Norte. E por causa desses pecadores pagavam os justos do Sul. Ah, o Norte, esse grosseirão sem emenda.

 

 

Artigo da autoria de Carlos Tê, jornal O Jogo

 

publicado às 17:38

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31 comentários

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De Bastos lopes a 01.05.2017 às 19:38

É já a seguir. Como se fosse crime alguem pagar este tipo de despesas a quem entender!
BdC derreteu 20M€ por teimosia com a Doyen sabendo que ia perder usando delapidando o que não lhe pertencia e a "carneirada" nem um piu.
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De Schmeichel a 01.05.2017 às 19:42

Mas eu disse que era crime?!

Mas vejo pelo devaneio da resposta, que o caro também partilha a minha suspeição....
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De Bastos Lopes a 01.05.2017 às 19:59

Não partilho coisa nenhuma estou apenas a entender a extensão marota da sua afirmação em crer ligar uma fezada sua a um facto, creio até que pagava para ouvir alguem vir apregoar tal noticia.
E os 20M€ ?
Agora que tudo está consumado e decido e se sabe porque o pavilhão que seria inaugurado em Dezembro de 2016 está ainda por concluir. Foi-se o dinheiro para a Doyen não pode haver para as obras de regime.
Quem paga pouco importa mas que é uma quantia collossal é!

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