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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Carlos Vieira, responsável administrativo pela área financeira, deu esta segunda-feira uma entrevista ao Jornal de Notícias na qual abordou alguns assuntos contemporâneos, garantindo não existir actualmente nenhuma necessidade de realização de negócios que incluam a venda de jogadores para equilíbrio financeiro do Sporting. Algo inédito.
Entre diversas declarações que naturalmente pouco expõem o clube à sensível natureza de tal afirmação, Vieira assume que hoje o Sporting é um clube valorizado e devidamente posicionado nos seus objectivos desportivos que deseja. Refere que Jesus, assim como o rendimento desportivo inerente à intervenção do mesmo, permitiu uma angariação de negócios bastante proveitosos, outrora inatingíveis por diversas direcções que legaram o clube a uma insustentabilidade já conhecida e deveras debatida.
Numa primeira observação ao teor da entrevista, nada de novo esta nos traz; não mais do que fomentar natural mensagem positiva e de esperança junto dos adeptos leoninos com natural interesse em acompanhar não apenas as questões futebolísticas, mas também as de ordem financeiras tão importantes ao interesse do clube.
Uma Reflexão
Em análise mais aprofundada, ressalva-se o enigma respeitante à “marginalização” de uma das mais importantes fontes de rendimento do Sporting, assim como de outro qualquer emblema mundial. Numa gestão desportiva moderna, já abordámos no Camarote Leonino os quatro factores fundamentais á sustentabilidade no que respeita às Receitas. Vamos lá recordar:
1) Receitas de Match Day (ex: venda de bilheteira, merchandising)
2) Receitas de Broadcast (ex: direitos de transmissão televisivos)
3) Receitas Comerciais (ex: sponsorship e objectivos de performance competitiva)
4) Receitas Extraordinárias (ex: vendas de Jogadores, prémios de competições)
Sobejamente conhecida a realidade clubística inerente a diferentes escalões e economias, o desinteresse pela venda de activos consegue tornar-se uma conjuntura apenas possível a emblemas com extraordinários ganhos nos referidos pontos um, dois e três. Falamos naturalmente de Man.United, City, Chelsea, Barcelona, Real e PSG, como exemplos nunca comparáveis aos nossos clubes portugueses. Embora de salientar que as condições de sustentabilidade financeira impostas pela UEFA determinem um break-even obrigatório positivo, levando também estes a ponderar a gestão de entradas e saídas de activos. Mas não naturalmente com necessários objectivos de sobrevivência, como nos casos do futebol português que diversas vezes assistimos.
A Ponta do Iceberg
Poderá o leitor então questionar o que estará por detrás de tal natureza de desinteresse de angariação de verbas em vendas por parte do Sporting. No conhecimento de todos, estará visível a ponta do verdadeiro iceberg, onde sobressaem as declarações do presidente do clube, que por diversas vezes afirmou que o Sporting pretende reconfigurar uma tendência de maus negócios que assistiam a passadas direcções no clube. O nosso aplauso, se tal for efectivamente conseguido. É o que todos desejamos.
Convém recordar que fazendo fé à não-existência de um dolo-intencional em qualquer elemento directivo passado no sentido de prejudicar as finanças do nosso clube a seu bel-prazer, compreendemos esta referida relação negativa de negócios passados – derivantes essencialmente da urgência de verbas para pagamentos imediatos – perante graves faltas de provisão de tesouraria. Do mesmo modo que sabemos que tais dificuldades económicas se deveram essencialmente ao assinalável défice de retorno de investimento aplicado num potencial competitivo das equipas que não o justificaram. Ou seja, investiu-se muito nas equipas sem retorno perante o que se gastou.
Na realidade, mais cedo ou mais tarde e como uma condição sine qua non, o Sporting terá necessariamente de vender activos. A pré-disposição semântica utilizada pelos elementos directivos actuais levar-nos-ão a acreditar no inverso, pois continua-se a assumir que a tal reestruturação financeira permite hoje o clube estar completamente alheio a este tipo de necessidade. Do mesmo modo, é notório interesse em passar a mensagem ao “mercado”, no sentido que este tenha de “abrir os cordões à bolsa” para contratar ao Sporting. É claro que as coisas não são assim que funcionam.
Este discurso só se sustenta naturalmente pelo resgate dos passes de jogadores, condição fundamental à libertação de uma linha de crédito (provavelmente em formato Factoring), na qual uma venda futura de activos (que podem servir hoje como necessárias garantias) proporcione o retorno desejado a quem está por trás desta emergente saúde financeira que assiste ao Sporting. Ou seja, poderá quase garantidamente o valor de uma futura venda de um jogador ter sido entregue por antecipação ao nosso clube, remetendo-se este a seguir indicações de conjunturas de mercado até ao negócio suceder para interesse alheio.
Em Suma
A economia é uma extraordinária ciência. Revitaliza um País defunto com um simples estalar de dedos, do mesmo modo que confunde todo o cidadão pagador de impostos a acreditar que as coisas “estão bem", levando-o a endividar-se, numa manutenção do ciclo económico obrigatório à sustentabilidade das nações. Reconhecendo que para a maioria da população estará na qualidade do seu sono a sua eterna riqueza, nunca esta se pode esquecer que o colchão onde se dorme nunca será mais importante que o pagamento da prestação de crédito da habitação, com todos os juros e responsabilidades inerentes.
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