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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
O Sporting não vive apenas e só de resultados desportivos. A contribuição vital deles para sustentar o emblema, e perante a importância que têm para os adeptos, é desproporcional ao fundamental enquadramento moderno de gestão desportiva. Se tal não fosse, os clubes não necessitariam mais do que 1 presidente, 1 roupeiro, 1 motorista, 1 guarda-nocturno do estádio, 1 treinador e todos os jogadores do plantel disponíveis. Com algum humor, assim, os custos com pessoal seriam drasticamente reduzidos.
O que os números dizem
Perante a demonstração dos resultados apresentados no mais recente Relatório & Contas disponibilizado pelo clube, podemos salientar vários aspectos de evolução e depressão, se aplicarmos uma interpretação analítica dos números. Presente a data de Março de 2013, o Sporting tem vindo a aumentar gradualmente os seus Rendimentos Operacionais. Contra os 25.7 Milhões de Euros dessa data, hoje declaramos mais que dobro: 54,75 Milhões de Euros. Inquestionável melhoramento, assim como um claro sinal de que, de algum modo, o coração do Sporting "voltou a bater".
Tal evolução é derivante essencialmente da parcela "Vendas e Prestações de Serviços", onde predominantemente imputam as tradicionais receitas de exploração audio-visuais, patrocínios, vendas de Merchandising e receitas de bilheteira. No Sporting actual, estes quatro valores somados resultam em 39,556 Milhões de Euros: Ou seja, cerca de 72% das nossas receitas. Se a estes valores forem adicionados os proporcionados pela presença nas competições europeias, obtemos a soma de 48,042 Milhões de Euros: ou seja 88% do total das nossas receitas.
Conclusão: 88% das receitas do clube são resultado directo da intervenção de:
- Adeptos (prestação da equipa): 13,165 Milhões (24% de contribuição)
- Broadcast (estratégia do parceiro): 18,838 Milhões de Euros (34% de contribuição)
- Sponsors (intervenção directiva): 7,553 Milhões de Euros (14% de contribuição)
- Competição UEFA (prestação da equipa): 8,486 Milhões de Euros (15% de contribuição)
O que os números do R&C não dizem - Análise de Freud
Factual este incremento de Income face a números do passado, embora num paradigma de sustentabilidade financeira, as receitas do nosso clube teriam de ser diferentes. Vamos perceber porquê, nomeadamente nestes três campos:
- Adeptos: o Sporting ficou aquém da previsão mínima que terei lançado anteriormente, declarando-se a verba 13,165 Milhões como manifestamente baixa. Tal verba implica um investimento de 26,33€ médios/anuais por 500 mil adeptos. Ou 13,65€ médios/ano por 1 milhão de adeptos. Valor demasiado pequeno, se considerado o universo global Adepto. O Sporting está obrigado a vender mais quantidade, vender mais caro, e nós adeptos, temos de gastar bem mais com o clube. Será responsabilidade desta actual Direcção o atingir de valores na ordem dos 25 milhões no próximo exercício. No mínimo!
- Media Broadcast: Uma reflexão sobre os próximos anos. Sou uma das poucas vozes que se mostram contra estas condições negociadas pelo Sporting com a operadora NOS. Terei manifestado a minha opinião sobre este assunto (num comentário a um texto de Rui Gomes, quando ainda não tinha o privilégio de fazer parte do Camarote), referindo na ocasião a percentagem de 40% como valor mínimo de Income de Broadcast. Ou mesmo noutra ocasião, em maior detalhe.
- Sponsors: o grande falhanço do clube. Neste campo, o reflexo natural nos vergonhosos números de Sponsorship não merecem desculpas. Custe isto a quem custar: ou o Sporting não tem prestígio algum, ou neste campo a Direcção é gravemente responsável. Tiveram 3 anos para prever a situação verificada no início da temporada. Numa instituição cotada em bolsa, tal situação provocaria inclusivamente uma advertência penal ao gestor financeiro, a respeito de danos patrimoniais provocados à imagem da empresa.
O que as palavras do R&C não dizem - Análise de Rorschach
3º Trimestre 2013/2014 - "Evolução Previsível da Sociedade"
"É expectável que, em colaboração com todos os stakeholders, a Sociedade consiga garantir sempre contas de exploração positivas. Assim, o já referido plano de reestruturação financeira, suportado pelos credores bancários e pelos accionistas permitirá uma melhoria das contas ao mesmo tempo que abre perspectivas de crescimento das actividades económicas da Sociedade em Portugal e no estrangeiro."
3º Trimestre 2014/2015 - "Evolução Previsível da Sociedade"
(um texto exactamente igual ao de 2013/2014!!!)
3º Trimestre 2015/2016 - "Evolução Previsível da Sociedade"
"...uma situação financeira, que apesar de influenciada por factos não recorrentes, permite justificar o caminho seguido e identificar que, havendo por exemplo alienações de direitos económicos ao nível das duas épocas anteriores (situação à qual a Sporting SAD não está obrigada) o défice identificado ficará solucionado, sendo certo que a melhoria geral da situação financeira."
Em suma
As previsões apontadas pelos últimos "Relatório & Contas" são a analogia ao calendário Maia: vale a pena tentar compreender, mas não devem ser levadas demasiado a sério. Em gestão financeira, o Sporting está comprovadamente bloqueado em soluções e continua demasiado dependente de VMOC's e OPS (deve estar para breve). É incompreensível que tal assim não seja, pelo facto da "não-necessidade" em vender activos, tal como perante a falta de outras soluções financeiras. Podia ser pior? Sim. Mas não seria difícil fazer melhor. O Sporting, neste momento actual, está longe de ser dono do seu destino. E 10 anos (180 milhões + juros) passam num instante.
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