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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
O dia em que David venceu Golias
Decorria o ano em que 11 estados-membros da união europeia introduziam no seu sistema financeiro uma nova unidade monetária: o Euro. Era igualmente o ano em que chegava a Portugal, aos 55 anos, um dos mais consagrados treinadores de futebol daquele período – trazia no currículo, entre diversos títulos, uma Champions League alcançada 2 anos antes ao serviço do Real Madrid. Uma reputada presença no nosso campeonato, embora de efémero estado de graça. Austero na manobra relacional com os seus atletas e desfasado da realidade económica portuguesa – como distante da reduzida margem de manobra do futebol lusitano no que respeita a projectos sustentados vs resultados imediatos –, o treinador sucumbiu ao óbvio: não conquistou os jogadores, não conquistou resultados, nem conquistou os adeptos. Acabou mais tarde por ser despedido, sem honra nem glória.
Curiosamente, a maior derrota que o referido treinador teve em solo nacional, foi perante o Estrela da Amadora. Três-zero na Reboleira, numa partida em que o consagrado foi vulgarizado táticamente pelo homólogo adversário. A perder por 1-0 ao intervalo, inicia a 2ª parte com um 11 reformulado: retira um central e opta por uma espécie de Catenaccio…atacante. O então treinador do Estrela não se fez rogado: fã e apreciador da filosofia totaalvoetbal, proporcionou um recital táctico em 45 minutos, no velhinho Estádio José Gomes.
O titulado treinador era o alemão Jupp Heynckes. O técnico do saudoso Estrela da Amadora era Jorge Jesus, de 45 anos. Na Reboleira, naquele dia, Jesus era um homem feliz. Aquele resultado foi provavelmente, ao longo de toda a sua carreira, a melhor prestação que o técnico português alcançou perante um currículo internacional superior ao seu. O Sporting, curiosamente, acabaria nesse ano, por se sagrar campeão nacional.
“Coisas” que só no Sporting acontecem
16 anos mais tarde, toda a história se inverte. 7 de Dezembro de 2016, na Polónia, o inexperiente técnico de 39 anos Jacek Magiera defronta com o seu plantel de €30 Milhões o técnico Jorge Jesus, hoje com 62, ao leme de uma equipa valorizada em quase €200 Milhões – o Sporting. Disputa-se a última jornada da Champions League, cujo interesse à nossa equipa somente se reflecte agora na entrada para a Liga Europa, à distância de um mero empate. Curioso que 24 horas antes da partida, Jorge Jesus afirma que a “sua” equipa está 90% focada no embate a ser disputado em Varsóvia. Talvez os restantes 10% estivessem destinados ao Dérbi a realizar em breve. Curioso também que 3 dias antes, talvez “embriagado” de felicidade em Atenas pelo aluguer de um empreendimento do qual se designará Academia, Bruno de Carvalho revelava-se focado provavelmente com os mesmos 90%, mas no vestido vermelho de uma qualquer apresentadora de TV.
Por vezes, parece-me que no Sporting se pensa mais no vermelho do que no verde, seja à proporção de 10%, seja à proporção de 90%. A partida, essa, terminou com uma derrota miserável perante uma equipa €170 Milhões mais “barata” que a nossa. Fazendo fé em teorias que validam custos de quase €11 Milhões/mês de operacionalidade verde-e-branca no sentido de se tornar o nosso Clube competitivo, no final fica para a história um gesto que nos leva às lágrimas de comoção: a utilização do Twitter oficial do Sporting para desejar boa sorte ao adversário polaco na competição europeia que este acede. Coisas “à Sporting”. Haja dinheiro…
E por falar em Custos Operacionais de quase €11 Milhões/Mês…
Dei por mim, após o jogo terminado, a proceder a algumas contas “despretensiosas”. Aparentemente, hoje o Sporting tem o plantel de Futebol mais caro da sua história – avaliado em aproximadamente €200 Milhões, como referi. Porém, este vosso caro amigo sportinguista descobriu que se analisarmos temporalmente a época onde brilhavam nomes como Balakov, Figo, Peixe, Paulo Sousa e Juskowiac, entre outros – 1993/94 –, hoje tal aglomerado de vedetas valeria (com a respectiva influência da inflação temporal aplicada) aproximadamente €222 Milhões. Agradecendo a Sousa Cintra o despretensioso uso do livro de cheques verde-e-branco, o Sporting nesse ano “desmaia” num qualquer Casino austríaco nas competições europeias e despede um treinador que um ano mais tarde viria a sagrar-se campeão pelo FC Porto com uma percentagem de vitórias no campeonato de 85% – em 22 anos, a segunda maior taxa de vitórias no campeonato, apenas atrás dos 90% de André Vilas Boas, no mesmo clube em 2010/2011, mas tanto quanto os mesmos 85% de Rui Vitória, na época passada.
Percentagens de aproveitamento: quando manter o Treinador, ou quando o despedir…
Quando foi despedido à 11ª jornada, Bobby Robson contava com uma percentagem de aproveitamento de 72% no campeonato – 8 vitórias em 11 jogos. Se analisarmos a mesma equação aplicada ao vencedor do Campeonato Nacional desse ano (Benfica), verificamos que aos encarnados bastaram 67% de aproveitamento ao longo das 34 jornadas, para alcançarem o título. Um facto interessante, que nos revelava que nesse ano de 93/94, mantendo o referido aproveitamento de 72% do nosso Clube sob orientação do técnico britânico, o Sporting poderia mesmo ter sido campeão. Trata-se apenas de um dado estatístico, obviamente, mas algo curioso.
No ano 1999/2000, o Sporting é campeão com 67% de aproveitamento no campeonato, contra os 64% do 2º classificado, FC Porto. Volta o Sporting a sagrar-se campeão em 2001/2002, com 64% de aproveitamento versus os 61% de Boavista, 2º classificado. Daí em diante, apenas Benfica com 55% de aproveitamento conseguiu o título em Portugal, numa época pobre em termos desportivos, de todos os 3 rivais – Sporting com 52%, FC Porto com 50%. Aqui percebemos que só numa época de baixo rendimento simultâneo dos 3 grandes, alguém se sagra campeão com aproveitamentos inferiores a 70%.
Desde que o Campeonato Nacional se configurou com os 3 pontos por vitória (na época 95/96), a percentagem de aproveitamento do clube campeão (vitórias) cifra-se em média nos 74,2% de vitórias. Desde os invulgares 90% de André Vilas Boas (época 10/11), que a média destas 5 épocas está nos 79,2% – no ano passado, o Sporting atingiu os 79% (!) perante os 85% de Benfica, algo invertível se, por exemplo, o Sporting tem ganho ao Benfica em Alvalade.
Algumas notas sobre aproveitamento
#1 - Benfica vs Sevilha, Final da Liga Europa 2013/2014 – Plantel do Benfica avaliado em €242 Milhões, perante os €152 Milhões do plantel espanhol. Jorge Jesus era o treinador, o Benfica perde o jogo.
#2 - Légia Varsóvia vs Sporting, jornada Champions 2016/2017 – Plantel do Sporting avaliado em €191 Milhões, perante os €30 Milhões dos polacos. Jorge Jesus treinador, Sporting perde o jogo.
#3 - Época 2016/2017 – Aproveitamento global do Sporting, em todas as competições, situa-se nos 57%…! Aproveitamento nas 12 jornadas do campeonato, encontra-se apenas nos 66%, 13% abaixo da média dos 79% em média exigidos para se ser campeão neste nosso Portugal. Ok, façamos 81%. Não vá o Diabo tecê-las…
Em suma
€24,530 Milhões de custos trimestrais para não se perceber que alguma coisa não está a funcionar. Basta fazer contas. Ou melhorar urgentemente, se tal não for impossível...
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