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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
«"Portugal está podre!" - atirou Rui Pinto no dia em que, na Hungria, conheceu a decisão do tribunal em extraditá-lo para Portugal.
A expressão chocou parte da ‘intelligentsia’ nacional, a mesma que, nas suas fragilidades e dependências, alimentaram o sistema que levou ao colapso do BES. "Está podre?!" Não. Não está. Como pode estar podre um País cujos apoios aos bancos já custaram, em nove anos, a partir de 2008 — segundo o Tribunal de Contas — 16,8 mil milhões de euros? Como pode estar podre um País que obrigou os contribuintes a financiar este custo, faltando depois dinheiro para investimento público e para melhorar a qualidade de vida dos portugueses?
Como pode estar podre um País que, confortável perante a apatia dos "coletes anémicos", se diverte a "bastonar" sem piedade os contribuintes, chamados a pagar todos os abusos, os dislates e os ‘chás dançantes’ das elites — de direita e de esquerda —, nada preocupados em fazer pagar a factura aqueles que são os verdadeiros culpados do gigantesco buraco em que colocaram o País?
No futebol, não sei se é melhor ou pior, mas o mal é semelhante e resulta tudo da mesma causa: o sentimento de impunidade. Como o Apito Dourado não teve as consequências que deveria ter tido, e não obstante a evolução que o sistema judicial conheceu em Portugal nos últimos anos, continua a achar-se que a construção de um novo poder ou a alternância de poderes se pode fazer numa mesma base de viciação orgânica. Pode mas não deve.
Aliás, esse é precisamente o problema de visão de Luís Filipe Vieira, presidente do maior clube desportivo português, em número de adeptos e em capacidade de gerar receitas e faturação acima de todas as entidades rivais.
Está a fazer uma boa gestão, assente desportivamente em pilares de desenvolvimento e crescimento interessantes, mas é incapaz de travar todos aqueles que vão projectando uma imagem tremendamente negativa do clube, seja nos espaços televisivos de debate, seja através de pontas-de-lança que enxameiam as redes sociais, seja através de intermediários que, montados em cima de ‘boas aventuranças’, metem-se em assuntos que nada têm a ver (ou têm?!) com transferências de jogadores.
Na verdade, bastava a Luís Filipe Vieira e a Jorge Nuno Pinto da Costa enterrarem de vez estes prosélitos do futebol marginal para tudo começar a mudar. A sensação que se colhe é a inversa; é a percepção de que precisam desses ‘anfíbios’, capazes de se moverem em qualquer tipo de ambientes e terrenos, mesmo os mais enlameados, para fazer a afirmação do seu poder. Talvez seja uma questão de e da natureza.
E por isso eu tenho sugerido a Luís Filipe Vieira que se agarre aquilo que verdadeiramente interessa (o cumprimento do seu projecto, nas vertentes desportiva e financeira), fechando a botija de oxigénio a quem se sente confortável com aquilo que eles consideram ser o patrocínio do Benfica, achando-se por isso ‘intocáveis". Não serão afinal Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira mais próximos do que aparentam?…
Um excerto da crónica semanal de Rui Santos, no jornal Record.
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