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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Um desempenho brilhante, uma prestação desportiva deveras assinalável e uma estrutura competente e muito estável, caracterizavam o futebol profissional do Sporting há cerca de um escasso mês. Hoje, passado o referido mês, o mesmo universo futebolístico encontra-se mergulhado na incerteza, na desilusão e até no pessimismo.
E o que provocou tão inesperada mudança?
O anúncio da saída do director desportivo no final da presente época e a sua permanência em Alvalade com pontos em paralelo com a sua futura actividade, provocaram desconforto nos sportinguistas. Mas foi a deveras abrupta saída do treinador que provocou a inversão do estado de espírito no universo sportinguista.
Há um mês Rúben Amorim era um treinador de excelência, diferenciador no rendimento da equipa principal, um dos mais titulados e com lugar de notável destaque na história do Sporting. Passado esse mês mantém todas essas qualificações intactas, com a substantiva diferença de ter escolhido uma via altamente criticável para colocar fim à sua relação com o clube.
Nenhum sportinguista pode colocar em causa a legalidade ou até a legitimidade da opção tomada por Rúben Amorim. Mas, tendo em conta o grau de relação pré-existente entre as partes, qualquer sportinguista também tem toda a legitimidade para criticar e sentir como traição, a forma como Amorim decidiu exercer essa opção, essencialmente pelo extremo prejuízo que daí advém para o Sporting CP. Será sempre um erro pensar que o conteúdo constante de uma decisão justifica a forma como essa decisão se expressa.
As "explicações" proferidas por Rúben Amorim serão alvo de uma dicotomia interpretativa por parte dos sportinguistas. Para os habituais "afáveis", compreensíveis, porventura com algum grau de ingenuidade, as declarações do treinador foram um manifesto esclarecedor da actividade e direitos de um simples profissional. Para os restantes, não passaram de uma encenação de alguém que, usando a legitimidade profissional e a ambição pessoal, procurou ocultar a quebra de um vínculo bem mais alargado que as questões legais.
Não foram os adeptos do Sporting CP que obrigaram Amorim a assumir, publicamente, o compromisso para o bicampeonato, nem a "convocar" jogadores e os mesmos adeptos para o referido compromisso. Muito menos aceitam que se possa relativizar, de forma tão leviana e unilateral, a existência de um vínculo contratual até 2026. Ou que a ambição do técnico em treinar um "colosso" mundial seja tão frágil que se extinguiria nesta proposta.
Notícias vindas de Inglaterra demonstram que o Manchester United, à boa maneira de quem se julga muito superior, agiu com total desprezo pelo Sporting CP. O clube leonino esteve à mercê da incompetência de Ten Hag. O clube de Manchester decidiu que, quando o limite de incompetência do treinador neerlandês fosse atingido, seria só apanhar uma avião rumo a Lisboa, pagar a cláusula rescisória destinada a "colossos" e levar o treinador leonino. E, pelos vistos, tinha em Rúben Amorim a peça que, desejosa e ansiosamente, esperava pela chamada do futuro "dono".
As declaradas ambições do senhor Amorim são legítimas, que aceite as oportunidades é compreensível, mas a forma com o faz tem de ser um factor decisivo na avaliação que os sportinguistas dele devem fazer. Para o Sporting CP, e por inerência para os adeptos do Sporting, escolher sair em Novembro NUNCA deverá ser igual a sair em Junho, por mais que esta peculiar situação lhe convenha. Como pessoa inteligente que é, ele sabe muito bem o dano que a sua saída, neste momento específico, vai provocar ao Sporting CP. E custa-me verificar como muitos sportinguistas não têm o mínimo de indignação com este evidente prejuízo, branqueando, por sustento no inegável e indiscutível anterior sucesso, esta realidade.
Acredito que o presidente Frederico Varandas, que pela sua formação e experiência militar deve privilegiar a lealdade nas suas relações, tenha sido apanhado de surpresa. Não duvido que nos bastidores defendeu intransigentemente os superiores interesses do Sporting CP (a obrigação de permanência do treinador até 10 de Novembro é um exemplo), mas o "choque" e a inexperiência perante uma situação desta evidente magnitude, traíram-no nas primeiras palavras públicas sobre o assunto. Dispensava-se a promoção e defesa da imagem do treinador e não deveria ter procurado relativizar determinados aspectos. A referência a que "só antecipamos a situação em sete meses" é totalmente descabida.
O problema não está no quantitativo de meses em que se antecipou uma situação. Está no exacto momento em que ela ocorreu, especificamente com um terço da época desportiva realizada e com importantíssimos feitos para conquistar. Estes sete meses podem ficar, pela negativa, na história do Sporting CP e teria sido incomparavelmente melhor que a situação tivesse ocorrido doze meses (em Junho 2024) antes do previsto.
Por último os jogadores, aqueles com maior importância na avaliação desta situação. Pela análise da equipa e por atitudes individuais de alguns deles, o recente jogo contra o Estrela da Amadora revelou que a situação os afectou. Cada um tem a sua forma de reagir, mas não deve ser nada fácil ver o comandante, aquele que os motivou e convenceu a fazer a "viagem", abandonar o "barco". São profissionais, mas também possuem sentimentos e sabem avaliar compromissos. Felizmente procuraram apoio nos adeptos, naqueles que sempre serão fiéis e nunca abandonarão o Clube. E foram correspondidos.
O momento é difícil, a desilusão existe, mas o actual Sporting não é um produto do Rúben Amorim. É indiscutível que ele foi um elemento muito importante nas sua construção, mas também muito beneficiou do produto em que o Clube se tornou. Acredito que o Sporting CP atingiu um estado de maturação e acção que não regride com a saída de uma peça, por mais importante que ela tenha sido.
Assumida a perda, que se faça o necessário ajuste e vamos em frente. O Marquês espera-nos e o Sporting CP e os sportinguistas não faltarão a este compromisso.
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