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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
"Eterno Domingo - o Futebol em Oito Jornadas”, Editora Lápis de Memórias, de Ricardo Namora, faz recordar o celebérrimo slogan publicitário pela caneta distinta e muito criativa de Fernando Pessoa: "primeiro estranha-se, depois entranha-se”.
É que a paixão experimentada pelo antigo futebolista e a linguagem poética do actual professor de Literatura levam-nos a uma leitura contínua, quase sempre com um afável sorriso nos lábios e a emoção no olhar. Trata-se de um livro de leitura verdadeiramente agradável e até realmente surpreendente sobre o futebol, um tema ainda pouco usual na literatura portuguesa.
Memória e sentimento. Como quando o autor recorda quase no final do livro “a criança que fui, enterrada no sofá a ouvir os relatos de futebol nessas tardes maravilhosas, desejando baixinho, e entre dentes, que o domingo fosse mesmo eterno e nunca mais acabasse”. A magia das ondas hertzianas possibilitava a ligação para aquilo que realmente importava. Então, tudo se aquietava à volta da telefonia.
Imagina-se que Ricardo Namora começou a construir a sedução das palavras no sonho de um pontapé de fora da grande área ou no malabarismo de um toque de calcanhar. Ou na imaginação do treino da sua equipa. Afinal, é o praticante do futebol como jogador e como treinador que escreve sobre o desporto-rei e as suas estruturas competitivas na Europa e na América Latina, as “pequenas histórias” que vivenciou, o grande espectáculo de massas e a atracção que ele exerce sobre os seus adeptos.
A literatura portuguesa é ainda pobre na sua relação com o futebol, ao contrário do Brasil onde muitos os escritores utilizam-no como tema. Carlos Drummond de Andrade e Nelson Rodrigues foram os primeiros, e depois muitos se seguiram. “Eterno Domingo”, como outras obras que foram publicadas nos últimos anos, constitui uma pedrada no charco e abre caminhos. É que há imensa poesia, emoção, drama e epopeia no futebol que o tornam um assunto relevante e atraente no contexto da nossa literatura.
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