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Está montada uma grande discussão em redor de Rui Patrício.

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Do seu ‘sportinguismo’ ou até da falta dele. Das motivações que o levaram a rescindir, alegando justa causa, com o clube que o formou como homem e jogador. Dezoito anos não são dezoito dias e quem passa tanto tempo ligado a uma instituição nunca a pode esquecer. Pelos momentos bons assim como pelos momentos maus. Os sentimentos são ambivalentes e contraditórios e, muito por isso, os adeptos estão divididos. No apoio e nas críticas, algumas das quais muito duras e destrutivas.


Os adeptos continuam ligados a uma ideia antiga mas desactualizada, desde que o futebol se profissionalizou, na ‘era da industrialização’.

Os jogadores podem começar por ser adeptos e revelar o seu afecto ou simpatia por um determinado emblema, mas têm de fazer uma carreira ‘em 20 anos’, grosso modo, e nesse ciclo têm de olhar para os seus contratos e para aquilo que podem encaixar, aqui ou na Conchichina. Por si próprios, hoje e no futuro, e pela suas famílias.

Quem não entende isto, não entende nada. Há jogadores mais ou menos ‘romantizados’, no sentido de serem mais ou menos susceptíveis às questões de um certo ‘amor clubístico’, e é a estes – os mais ‘romantizados’ – que os clubes devem prestar maior atenção. Se o Sporting (com Bruno de Carvalho) tivesse tido a percepção banal de conciliar a oferta de um bom ordenado e outras compensações com a criação de um bom ambiente, no qual um dos seus ‘capitães’ e figura de proa do plantel se sentisse desejado e bem tratado, estou certo de que Rui Patrício estaria ganho para terminar a sua carreira em Alvalade.

Haver ofertas externas ou a intenção de se melhorar as condições contratuais não pode ser observado como um sacrilégio. É algo absolutamente normal no futebol hodierno. É natural, pois, que - enquanto esteve de leão ao peito - Rui Patrício tivesse sido colocado em sobressalto, várias vezes, com a ideia de mudar e sair. Normal, repito. Esta coisa de querer fazer dos jogadores-emblema uma espécie de monges de mosteiro é uma coisa tão disparatada como querer misturar questões de fé com dinâmicas profissionais, do foro técnico-desportivo.

O que aconteceu na Academia, em Alcochete, é algo que nunca deveria ter acontecido – e a razão pela qual coisa idêntica nunca aconteceu em qualquer Academia do Mundo demonstra a singularidade e a gravidade da situação.

Neste plano, Rui Patrício foi colocado debaixo de uma pressão não apenas inusitada mas também insustentável. Qualquer dirigente com dois palmos de testa entenderá que um jogador não tem apenas direitos como não tem apenas deveres. Direitos e deveres devem andar de mão dada. E isto é válido para todos aqueles que constituem as estruturas dos clubes de futebol. 

Fazer dos jogadores uma espécie de escravos-de-luxo, ligados roboticamente aos seus ‘grandes ordenados’, sem qualquer respeito por aquilo que são as suas convicções e sentimentos, tentando dominá-los como se fossem cães de trela passeados pelo dono, foi aquilo que Bruno de Carvalho quis fazer deles, no auge de uma visão tão obcecada quanto funcionalmente ofensiva dos valores mais basilares de convivialidade e tolerância.

Rui Patrício foi ofendido e humilhado. A ‘chuva de tochas’ com que foi mimoseado e ironica e hipocritamente ‘celebrado’, numa das balizas da qual foi principal guardião durante anos a fio, foi apenas uma ínfima parte de uma estória de ‘humor negro’.

O Sporting nunca podia ter perdido Rui Patrício nas condições em que o perdeu e o único culpado foi o ex-presidente dos ‘leões’, que não soube lidar nem com a fama, nem com o sucesso que chegou a ter, nem com o monstro que deixou desenvolver dentro de si próprio.

Rui Patrício tinha todo o direito de um dia poder assinar por outro clube e sair do Sporting, mas nunca nas condições em que aconteceu. É evidente que o Wolverhampton é de menos para um dos melhores guarda-redes europeus; é evidente que Jorge Mendes chamou para si a gestão do negócio e da carreira de Patrício – e também parece óbvio que o ‘Wolves’ só pode ser um clube de passagem… 

Como parece óbvio que, quando assinou pelo Wolverhampton, Rui Patrício não acreditou que Bruno de Carvalho iria ser destituído ou saísse da presidência. Tê-lo por perto era um pesadelo – e não apenas para o ex-capitão do Sporting. Os ‘símbolos’ nunca se destroem, mesmo quando parecem destruídos.

 

Rui Santos

 

publicado às 04:05

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39 comentários

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De Carlos N.T. a 08.07.2018 às 09:56

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