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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Há uma biblioteca inteira com literatura específica sobre o guarda-redes de futebol. Milhões de palavras já foram ditas e escritas. Pudera, que quando as equipas entram em campo apresenta-se equipado de forma diferente e é o único que pode jogar sempre a bola com as mãos e com os pés.
Dizia-se, noutro tempo, que o lugar da pequena área era maldito e que por isso a relva não crescia onde keeper pisava. Também se garantiu que era um bocado louco.
Nos jogos entre a miudagem o gordo ou o que tinha menos jeito é que era o guarda-redes. E o “dono da bola” gritava-lhe que não saísse da baliza, na esperança que atrapalhasse os adversários ou que, por sorte, a bola lhe batesse no corpo e não entrasse.
Houve quem escrevesse sobre a angústia do guarda-redes no momento do penaltie. Tanta coisa foi pronunciada sobre o homem da baliza que chegava e sobrava para dezenas de teses de doutoramento na área da psicanálise ou da psiquiatria.
Entretanto, o mundo e o futebol deram muitas voltas. É vê-lo agora, o guarda-redes, desenvolto e de olhar fixo no adversário que vai rematar o penaltie.
Então, se for no desempate do jogo por remates na marca de grande penalidade está nas suas sete quintas. Basta observar o desgraçado que caminha em direcção à grande área, depois de percorrer meio campo desde o círculo central, esquivando-se ao olhar penetrante do keeper.
Agora, a angústia tem outro dono e este desvia desesperadamente o olhar.
O desempate por penalties na final da Taça de Portugal entre o Sporting e o Braga foi revelador. Rui Patrício mostrou no que consiste a nova realidade.
Patrício não se intimidou apesar de estar fisicamente limitado, olhou sereno e inquiridor, procurando que o adversário assumisse a iniciativa. Só Alan é que o conseguiu enganar. Confiante, ele sabia que alguma vez o marcador remataria com menos força ou denunciaria o remate. Ou que chutaria a bola para fora.
Esperar até ao último milésimo é um jogo psicológico que desatina o marcador da grande penalidade, que naquele momento, com as pernas a fraquejar depois do sofrido percurso desde o meio do campo, um estádio inteiro com os olhos postos nele, deseja que o guarda-redes se denuncie por um breve movimento ou intenção. Este, do alto do seu metro e noventa, faz orelhas moucas e procura aguentar o braço de ferro enquanto finge esconder toda a baliza.
E aguarda… que o relógio marca os segundos para o outro, para quem a baliza encolhe por todos os lados. Então, num ápice, num movimento felino no instante do remate, qual predador, o guarda-redes cai sobre a bola e agarra-a sôfrego ou afasta-a do risco fatal. Está tudo consumado.
A competência técnica e emocional do Rui Patrício transformou-o num dos heróis do jogo e, logo de seguida, numa correria sôfrega desde o meio do campo os companheiros anseiam por vitoriá-lo e gritar o seu nome.
Foi assim que as coisas se passaram na final da Taça de Portugal, no mítico Estádio do Jamor, entre Rui Patrício e os jogadores do Braga que se aproximaram da marca de grande penalidade!
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